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quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Publicação dos comentários sobre os artigos da primeira etapa do curso

Olá pessoal! Os 3 textos a seguir são os comentários sobre os artigos da primeira etapa do curso: Crítica a Sociologia dos partidos políticos em Vocação do Poder e Entreatos de Andréa Batista e Comentário sobre o artigo Sociologia dos partidos políticos em Vocação do Poder e Entreatos de Maíra Gussi, ambos baseados no artigo de Raphael Andrade; e Vocação do Poder - Uma outra visão de Natália Andrade, baseado no artigo de Sebastião Gomes.

Raça: Signo e Poder

Rita Laura Segato e José Jorge de Carvalho são professores e pesquisadores do departamento de Antropologia da Universidade de Brasília, é deles a proposta de uma medida de reserva de vagas para estudantes negros e indígenas nas universidades públicas brasileiras. Em 2002 duas universidades adotaram essa política de cotas, a partir daí o tema tomou conta da mídia, dos debates políticos e das conversas populares.

O texto Raça é Signo de Rita Laura Sagato esclarece os fundamentos e motivos das cotas raciais no Brasil. Uma vez que os negros brasileiros não participam de uma cultura ou tradição diferenciada da do resto da população, ser negro no Brasil significa exibir os traços que lembram e remetem à escravização dos povos africanos por parte dos exércitos coloniais. Ou seja, o contexto histórico da leitura é que levará ao enquadramento do indivíduo em categorias raciais.

Esse fato evidencia os critérios de percepção de raça: no Brasil, por exemplo, a raça é associada ao fenótipo, já nos Estados Unidos depende da origem, ascendência genética. Dessa forma, a autora enfatiza que raça é signo (símbolo) que adquire seu significado através do contexto histórico e político no qual está inserido.

A discriminação positiva construída pela política de cotas introduz a “eficácia comunicativa”. Se atualmete a cor da pele negra não está associada ao poder, à autoridade, e ao prestígio, gradativamente o acesso dos negros irá crescer na paisagem dos ambientes em que transitamos, e a universidade é a porta de entrada capaz de reverter esse processo obsoleto e aparentemente estabelecido. Embora a reserva de vagas por meio de critérios raciais apresente algumas dificuldades e equívocos, ao menos retira do discurso público a falsa impressão de que no Brasil não existem diferenças raciais ou preconceitos, além de propôr uma mudança histórica na sociedade.

Autor: Jorge Máximo - Letras-Português 2º semestre

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Sob a Névoa da Guerra - 11 Lições de Robert Macnamara



Crítica


A expressão "the fog of war" se refere à impossibilidade de se definir a guerra moderna dentro dos padrões maniqueístas convencionais (bem e mal, vencedores e vencidos), haja visto as variáveis militares, políticas, econômicas, tecnológicas e sociais que nela atuam. Em Sob a Névoa da Guerra, Oscar de melhor documentário em 2004, Errol Morris não pretende analisar cada agente que a constitui, mas antes mostrar, a partir das lições aprendidas por Robert S. McNamara como secretário de defesa de John Kennedy e Lyndon Johnson, a complexidade do campo de batalha.


Com a aproximação a Sun Tzu, Morris evita o sensacionalismo fácil dos filmes que condenam os horrores da guerra. No entanto, além da objetividade de McNamara representar apenas seu ponto de vista sobre o assunto, Sob a Névoa da Guerra se vale da paradoxal relação de repulsa e de fascínio que o ex-secretário de defesa tem pelas câmeras – e, em conseqüência, da hostilidade que este mantém com o cineasta, o qual deseja se expressar por intermédio do entrevistado –, a fim de tornar ainda mais cinzento e indefinível o objeto que se propõe a estudar.


São tensões e distensões, avanços e recuos que, como na Guerra Fria entre EUA e URSS, marcam a relação de Errol Morris com Robert McNamara. Morris se coloca no lugar de McNamara, tenta compreender o campo de batalha através de seus olhos, porém igualmente reconhece a pouca confiabilidade do depoimento prestado pelo ex-secretário de defesa (como o próprio reconhece) ao afirmar que nunca diz a verdade, e sim apenas o que o ouvinte quer escutar. A desconfiança mútua e permanente entre documentarista e documentado, que faz mais opaca a expressão "the fog of war", é visualmente expressa pela posição marginal de McNamara na imagem, na medida em que raras vezes ele ocupa o centro da composição, quase sempre aparecendo nos cantos da tela, parcialmente fora do quadro, tão esquivo quanto suas respostas.
McNamara mente ou fala a verdade? Ele manipula Morris, ou é por ele manipulado? A força de Sob a Névoa da Guerra nasce precisamente do apagamento dos limites entre o branco e o preto, tanto na guerra moderna, quanto no documentário.


Paulo Ricardo de Almeida

As 11 lições de Robert Macnamara



1- Sinta empatia pelo inimigo.
2- Racionalidade não irá nos salvar.
3- Existe algo superior a uma pessoa.
4- Maximize a eficiência.
5- Proporcionalidade deve ser uma meta da guerra.
6- Consiga a informação.
7- Acreditar e ver, os dois podem falhar.
8- Esteja preparado para reanalizar seu pensamento.
9- Para fazer o bem, você pode ter que fazer o mal.
10- Nunca diga nunca..
11- Você não pode mudar a natureza humana.


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Publicação dos artigos baseados nos documentários "Entreatos" e "Good Copy Bad Copy"

Olá pessoal! Os artigos a seguir são referentes aos documentários Entreatos e Good Copy Bad Copy, assistidos em sala de aula. Vocês, estudantes da disciplina de ICP-Verão, têm uma semana, contando de hoje (quarta-feira, dia 30/01), para escrever e entregar a crítica ou comentário sobre algum desses artigos publicados aqui. Ou seja, vocês têm até dia 07/02. Ao escrever essa crítica ou comentário, vocês podem tanto concordar, quanto discordar da visão do colega autor do artigo. A formatação da crítica é a mesma do artigo e as demais diretrizes estão no programa do curso.

Abraços,

Luíza Alencastro - Monitora

O Crescimento do Partido e a Tomada do Poder

Baseado na obra Sociologia dos Partidos de Robert Michels e no documentário Entreatos de João Moreira Salles, este estudo visa fazer uma análise da transição ocorrida na estrutura do Partido dos Trabalhadores entre as eleições presidenciais de 1990 e 2002.

De acordo com Michels, quanto mais um partido político aumenta sua estrutura, ganhando membros e recursos financeiros, cresce a necessidade de uma organização centralizada e conservadora que lidere e estabeleça a direção que o partido seguirá. Essa centralização tem como base os princípios de autoridade e disciplina, que por sua vez são os fundamentos que regem o Estado. Sendo assim, “o partido político revolucionário é um Estado dentro do Estado” (Michels ,1982: 221).
Noto, assim, que o PT de 1990 passou por esse processo de transformação “estadista”, mudando seu discurso anti-capitalista para a postura pragmática que ganhou as eleições de 2002. Essa mudança fica evidente não somente no plano ideológico mas também nas relações políticas que o partido passa a ter. O PT, desde sua fundação em 1980, era contra alianças com setores de centro e de direita. Em 2002, entretanto, um dos fatores que mais contribuíram para a vitória do partido nas eleições presidenciais foi a aliança com os referidos setores.
Penso que tais alianças não são fruto de um pragmatismo temporário que visava somente ganhar as eleições.Tal postura foi necessária também para governar o país. É fato que, na atual conjuntura democrática, onde a maioria decide os rumos da política, nenhum partido seria capaz de governar, dentro dos meios democráticos, sem o apoio dos vários setores da sociedade. E, para inspirar confiança nesses setores, o partido foi obrigado a mudar seu discurso de tom revolucionário e garantir que todas as estruturas políticas e econômicas se manteriam “intactas”. Em troca de apoio muitas vezes são oferecidos benefícios como cargos e até mesmo dinheiro, como mais tarde descobrimos através do escândalo do Mensalão.
Isso prova que a eleição de Lula como presidente não representou qualquer ruptura com a elite que anteriormente estava no poder, foi na verdade a dita circulação das elites descrita por Michels, onde as relações de poder continuam as mesmas, mudando apenas os personagens e incorporando-se novos fatores decorrentes do “novo” cenário político.
Creio, entretanto, que essa corrupção dos antigos valores não leva à total perda da ideologia de um partido como o PT. Ainda hoje existem alas do partido (agora classificadas como “radicais”) que possuem, senão os mesmos, princípios bastante parecidos como os que antes regiam a estrutura do PT. O que realmente mudou foi a cúpula administradora do partido que, já possuindo as características do Estado contra o qual lutava, se corrompeu ainda mais ao chegar ao poder. E embora se saiba que a luta tenha tomado outros rumos, ainda vemos a tática de convencimento da população mais pobre que via, e me arrisco a dizer que ainda vê no PT a solução para todos os problemas do país. Como dizia Maquiavel (1513: p.16) “os homens gostam de mudar de senhor, julgando melhorar”.
Vejo com a eleição e reeleição de lula o nosso equívoco em pensar que tomando o poder, tomando o Estado, mudaremos a condição social, econômica e política da nação. John Holloway (2003, p.21) exemplifica esse pensamento falho com o que aconteceu com a União Soviética que, mesmo após a tomada de poder do partido dos trabalhadores não conseguiu manter o bem estar social. Parece-me portanto, que não apenas o PT de Lula, mas qualquer partido democrático ou revolucionário que tentar mudar uma nação apenas tomando o poder será fadado ao fracasso se esse for “realmente” seu objetivo.
Bibliografia:
MICHELS, Robert. Sociologia dos partidos políticos. Brasilia: Editora Universidade de Brasília, 1982. 243 p. (Coleção Pensamento Político ;53)
MACHIAVELLI, Niccolo. O príncipe. 13. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2003. 156 p. (Coleção leitura) ISBN 8521901992
HOLLOWAY, John. Mudar o mundo sem tomar o poder: o significado da revolução hoje. São Paulo: Viramundo, 2003. 330 p. ISBN 8587767119

Autora: Adrielle Silva - Ciências Contábeis 3º semestre

Reflexões sobre o documentário Entreatos

A tendência manifesta de polemização acerca dos níveis espectatoriais de rejeição ou simpatia ao filme Entreatos, decorrente de uma improcedente comparação com o similar Peões, trouxe à tona questões produtivas. Embora ambas as reproduções abordem os intensos dias de campanha eleitoral do atual presidente, o elo que as une aí se detém; os enfoques escolhidos pelos diretores de uma e outra obra são expressivamente distintos. O documentário do cineasta João Moreira Salles salienta em seu discurso o triunfo social dos desfavorecidos, ao mesmo tempo em que expõe as lamentáveis contradições ideológicas provenientes dos processos vitoriosos. Assim, percebe-se a relevância do conteúdo histórico na produção fílmica, o que a torna singular, impondo obstáculos a contundentes julgamentos de base comparativa e possibilitando, por outro lado, abordagens plausíveis das mais variadas.
É justamente a percepção da primazia de Entreatos que fomenta a discussão de quão importante é tal empreendimento em face do cenário político brasileiro. O documentário se destaca já pelo conteúdo em questão: fato inédito na história do país e do próprio continente em que um integrante do povo com ideais aparentemente radicais, revolucionários, disputa eleições presidenciais e obtém a vitória com número recorde de votos. Para além desse aspecto, a opção em relatar tão somente situações privadas, desprovidas de apelo midiático, desloca o eixo de atenção. As intermináveis cenas nas quais Lula discorre a respeito de sua trajetória de vida, se posiciona espontaneamente diante de questões políticas centrais, conferem um caráter humano, de pujança emocional ao teor fílmico. Dessa forma, distanciando a câmera de momentos eufóricos, Entreatos se oculta na competição com veículos comunicativos tradicionais. Enquanto obra de arte e documento histórico, portanto, apresenta inestimável valor.
Vale analisar, ao mesmo tempo, a adoção de um aspecto de encenação por parte do diretor, o que inclui o comportamento de Lula ao seguir orientações propagandísticas do publicitário Duda Mendonça. A característica teatral da mídia demonstra de modo intensivo o poder maculador, deformador e recriador dos meios de comunicação de massa. A cena em que o candidato à presidência inicialmente manifesta contrariedade à perseguição efetivada por alguns fotógrafos e, após o encontro com os mesmos, porta-se de maneira assaz simpática, por exemplo, comprova esta situação. A própria intervenção da equipe assistida evidencia a manipulação existente no meio político, como ilustra a seqüência em que Guido Mantega se opõe a confabular na presença das câmeras. Embora João Moreira Salles garanta a neutralidade dos participantes é de supor que a imparcialidade plena, quando se envolve cenário político, não seja alcançada, principalmente em se tratando do espetáculo de teatro Entreatos.
Autora: Gabriela Lobosque

Entreatos

O filme Entreatos, do diretor João Moreira Salles busca explorar os bastidores de uma eleição presidencial. O candidato selecionado pelo diretor, fora, para sua surpresa o vencedor das eleições. Luis Inácio Lula da Silva, atual presidente da República Federativa do Brasil, foi quem abriu as portas para a realização deste documentário. Parece claro que o diretor possui certa simpatia com o então candidato. O simples fato de tê-lo escolhido para ser o objeto de seu trabalho já demonstra que algo o aproximava do candidato mencionado. A escolha fora bem feita, porquanto o protagonista do filme fora efetivamente escolhido como o novo Presidente. O caminho rumo a construção de um bom filme começou bem logo após seu término.
Entreatos tem como protagonista o já mencionado Luis Inácio Lula da Silva. Este filme pretende mostrar como se desenrolam os bastidores de uma campanha eleitoral e como há a necessidade de transformação de um indivíduo em um candidato. É o exemplo claro de Lula. Aquele que certa vez fora um líder sindical e que lutava ao lado dos obreiros, hoje passa ao lado do patrão de terno e gravata. Mas isso não significa uma mudança de pólos. O que se percebe na construção da campanha é que para concorrer às eleições, mesmo aquele indivíduo naturalmente carismático – como é o caso de Lula – precisa modificar-se para se transformar em um candidato apto a eleger-se Presidente. A história de Lula mostra isso. Quando das três primeiras eleições em que concorreu, respectivamente, com Ferndando Collor de Melo e Fernando Henrique Cardoso – com este, duas vezes – Lula conservava ainda aquele tipo do proletário, socialista e reivindicador de seus direitos e de sua classe. Nas três, ele perdeu. Nem mesmo seu carisma, que atraia os afetos ao socialismo e os partidários de esquerda em geral, foi suficiente para fazê-lo vencedor naquelas eleições. Era, sem dúvida alguma, necessário transformar-se.
É o que mostra e conta o filme. Lula passa a entender as regras do jogo e percebe que para poder alcançar seu objetivo era preciso jogar segundo elas. Contrata um publicitário renomado para cuidar de sua campanha; fortalece seu corpo político, chamando para junto de si, aqueles indivíduos de seu partido que haviam tido sucesso em seus cargos; elabora um plano realizável e o executa. O resultado é o sucesso. A vitória nas eleições.
O filme faz questão de mostrar o contraste entre aquele que, ainda sob as vestes do proletariado, participou e perdeu as três primeiras eleições para Presidente que concorreu, e aquele que, hoje, devidamente apresentável a todas as classes, mostra-se capaz de satisfazer as necessidades de todos, desde os mais pobres aos mais ricos. Essa transformação, bem realizada, fora crucial e determinante. Assim sendo, Lula mostra-se capaz de, unindo seu carisma, sua vontade e um pouco de esperteza, ser aquele que pode tentar a transformação. Vejamos se ela realmente aconteça.
Autor: André Nunes Chaib, estudante de Filosofia – 7º semestre

Na prática, a teoria é outra


“ Queremos mudar a relação entre capital e trabalho. Queremos que os trabalhadores sejam donos dos meios de produção e dos frutos de seu trabalho! E isso só se consegue com a política.”

Lula, 1981


“O PT enquanto partido não pode abrir mão do seu discurso. Mas tem que ter a sensibilidade para entender o que pode fazer e o que não pode. O PT hoje não criaria nenhum problema com o governo.”

Lula, 2002

A conquista da presidência acabou definitivamente com a imagem de “partido contra a ordem” que foi criada em torno do Partido dos Trabalhadores. Este fato completou a transição do PT, que abriu mão gradativamente de seu discurso ideológico anti-capitalista para se tornar um partido pragmático, focado nas alianças políticas.

O PT nasceu no final dos anos 70, fundado por sindicalistas e católicos de esquerda de Santo André, São Bernardo e São Caetano, o ABC industrial de São Paulo. Foi a primeira experiência de um partido criado pelos próprios trabalhadores, uma verdadeira revolução na esquerda brasileira, cuja identidade era baseada no sentimento de injustiça e exploração que os unia. Ganhando cada vez mais adeptos e força conseqüentemente, e apoiando-se na figura de um líder carismático, o partido partiu para a disputa das eleições, supondo, no princípio, que conquistar o Estado seria a resposta para a mudança radical, ao colocar em pauta na agenda política brasileira a necessidade de profundas transformações políticas, econômicas, sociais e culturais.

Mas a escolha de substituir o Estado pelas vias legitimizadas propõe a adaptação da ideologia do partido, uma tendência inevitável, já descrita por Robert Michels [1] em 1915. Com as derrotas eleitorais, o partido viu na moderação os caminhos para chegar ao poder e o sentimento do “petismo” já não era mais compatível com a ambição de vencer a eleição.
O novo perfil que o PT procurou implementar expressa essa metamorfose e a conseqüente adequação à ordem. Sujeito à agenda eleitoral, o partido passou a atuar cada vez mais na esfera da institucionalidade, contrariando sua luta contra a pragmática neoliberal. A necessidade de mobilizar o máximo de eleitores, atingindo também aqueles de centro e até mesmo de direita, não trouxe outra saída a não ser amenizar o discurso de revolução socialista, de reforma agrária radical, uma ameaça ao direito à propriedade privada, e buscar alianças que permitiriam ganhar as eleições.

Ao final do processo, o sentimento que acompanhou o partido passou a ser apenas um recurso midiático, não mais sua verdadeira ideologia, levando o eleitor brasileiro com grandes expectativas de justiça social e redistribuição de renda à frustração e à desilusão, ao constatar que o PT no poder é o contrário do PT na oposição.

[1] MICHELS, Robert. Sociologia dos partidos políticos.


Autora: Aline T – 2° semestre de Tradução - Francês

Direito autoral ou liberdade cultural?


A pirataria é um dos grandes dilemas que existem, tanto nos júris das causas de direitos autorais como também no nosso cotidiano na simples compra de um CD pirata. Existem muitas opiniões contrapostas quanto a esse tema, no entanto, nenhum dos dois lados é o vilão da estória. É com objetivo de apresentar esses dois lados que o documentário Good Copy Bad Copy como o próprio nome ilustra, nos trás uma leitura dessa realidade abrindo as portas para um debate atual, por intermédio da visão de estruturas como as do mercado cinematográfico nigeriano, a pirataria na Rússia, a indústria fonográfica dos Estados Unidos e o Techno Brega Brasileiro nossa realidade.

Os detentores da Indústria tradicional defendem que a apropriação da propriedade intelectual causa um grande prejuízo para o artista, para as gravadoras e para todo o meio que lhes permeiam, como aos trabalhadores de lojas de discos que perdem seus empregos. Empresas fonográficas lutam nos júris pela defesa dos direitos autorais pregando que a pirataria é um desrespeito ao artista em detrimento de um comércio ilegal.

A nova indústria da música que surge com a evolução da tecnologia de downloads defende a liberdade do “compartilhamento de informações”. Partidos como o sueco Piratpartiet lutam contra leis que inibam o fluxo de cultura da sociedade. A liberdade de avançar na formas de expressões culturais, o que também seria um avanço da sociedade.

Seria difícil propor uma suposta neutralidade neste artigo, por isso como cidadã que convive no dia a dia com essas superestruturas capitalistas de um modelo de negócio sempre em conflito com sua própia criação de desenvolvimento assim como um dos entrevistados Peter Jenner acredito que com esse novo modelo de tecnologia existente é impossível simplesmente retroceder. Uma da falas de Peter Jenner no filme Good Copy Bad Copy reflete bem essa visão “Se você conseguir fechá-las, elas irão para um barco”. A pirataria vilã assim como a mídia prega, não existe, nem será ela a destruidora desse modelo da indústria musical tradicional.

Autora: Andréa Moura Batista - Serviço Social 3° semestre

A alternativa da pirataria

A pirataria, quando tratada além do seu limite superficial, traz a tona uma série de discussões e questionamentos projetados da sociedade contemporânea dentro de um mundo menor, reflexo de suas contradições. Por trás de todo o convencional discurso, o debate vai mais além, entra em todo um gigante complexo que envolve legalidades e uma máquina lucrativa que se encontra em crise quando invadida por essa mítica figura adaptada ao século XXI.

Dentre as discussões de violação de direitos autorais fica a pergunta; mas como funciona esse reino das legalidades que é ponto-chave nessa discussão? E qual o papel que a prática da pirataria exerce nesse contexto do que é dito “legal”?

De uma forma geral ela sustenta “uma sociedade na qual as leis sempre foram armas para preservar privilégios e o melhor instrumento para a repressão e a opressão, jamais definindo direitos e deveres” (CHAUÍ, 1994: 54), reino onde poucos têm acesso e pouco se pode mudar. Essa é a base fundamental da legitimidade que garante “direitos” já explanados na citação acima que, na maioria das vezes, nada mais são que privilégios.

No caso da pirataria, as cercas passam agora do mundo material para um aspecto abstrato, tratando-se de propriedade intelectual, inserindo conhecimento, informação e criatividade nos acordos do capital. Caso ainda mais interessante tanto pela violação do direito natural à informação quanto a violação “legal” dos direitos autorais. Nesse cenário adaptado, onde novas relações surgem, outros atores entram em cena e a pirataria estréia como o vilão moderno, o que nos remete a idéia que ela surge como resposta premeditada ou arquitetada. Entretanto ela pode ser vista como meio de resistência conseqüente, produto da própria negligência quanto ao que se determina legal, e onde ela própria cria espaços que de algum modo precisam ser preenchido levando à formas alternativas de acessos às áreas dominadas. Quando se pula as cercas, se generaliza, distribui e socializa aquilo que naturalmente deveria ser acessível a todos, cria uma zona aberta - em termos - de acesso onde antes se pagavam preços exorbitantes garantidos pelas leis de direitos autorais. A Internet em particular propicia isso, assim lembrando o dito popular, ladrão que rouba ladrão...

Nesse contexto, a pirataria e seu papel frente ás legalidades desempenham essa resistência inconsciente de quem busca conhecimento, entretenimento, informação através de fontes alternativas e mais acessíveis e de uma forma ainda mais singular por ter uma grande adesão popular difundida. Caso que não vem necessariamente de uma consciência de direitos ou simples desobediência civil, mas que abre o debate em relação a estes, porém de uma necessidade real criada por essas brechas das contradições liberais que fecham espaços, contudo abre lacunas que se preenchem dessas práticas autônomas. Práticas que em relação aos copyright, por exemplo, têm exercido uma influência na política de interesses tendendo a alguma mudança no muro quase intransponível do reino das legalidades.

Autora: Karolline Pacheco Santos - História

Governo Lula: esperança decepcionada? Reflexões geradas pelo documentário Entreatos, de João Moreira Sales

Baseada no documentário Entreatos, de João Moreira Sales, em outros documentários assistidos, em textos e discussões das aulas de Introdução à Ciência Política e em minha pequena experiência de vida (principalmente na vida política), refleti sobre diversas questões sobre o Governo Lula e sobre o funcionamento da política em si. Minha visão acerca desses assuntos é, talvez, muito utópica (no sentido de “projeto irrealizável” – MINIAURÉLIO, 2000) ou até mesmo inocente e pode tornar esse texto “viajante”, mas expressa aquilo que eu penso e sinto hoje.
Ao falar do Governo Lula, as críticas são severas e muitas pessoas sentem-se decepcionadas com as mudanças em que a chegada ao poder representou: antes um discurso anti-corrupção, anti-assistencialismo, hoje uma realidade de corrupção e assistencialismo, sem investimentos reais maciços. Não podemos negar que essa é uma das melhores fases brasileiras, mas ainda assim está longe de ser aquilo que queremos e esse é o principal motivo de decepção com o Partido dos Trabalhadores, que construiu um sonho de uma nova realidade junto ao povo brasileiro.
Eu reconheço os erros cometidos ao longo desses anos de governo, me decepcionei também, mas creio que as mudanças não tenham sido por vaidade ou por um falso pragmatismo eleitoral.
Acredito que ao longo da história do PT, principalmente a partir de 1989, seus dirigentes, principalmente o Lula foi entendendo que no jogo político, o sistema é decisivo e dificilmente mutável: ou você se enquadra ou não o alcança e o Partido dos Trabalhadores optou por chegar ao poder (mesmo que acarretasse em algumas perdas) para tentar colocar em prática o que discursavam acerca de seus planos para a sociedade – se rendeu ao pensamento elitista. Com isso, tiveram que buscar aliados em partidos com divergências de ideais e em atores políticos (grandes empresários, banqueiros, ...) que se preocupavam apenas com seus interesses financeiros etc, podando um pouco de sua liberdade, pressionados internacionalmente também.
Uma outra questão que deve ser levada em consideração é o fato de que o Estado não é composto apenas do presidente e sim de toda uma máquina, que inclui também deputados e senadores. Ao eleger o Lula como presidente, o povo brasileiro também elegeu maioria de deputados e senadores da oposição, dificultando a governabilidade, já que, ao tomar uma decisão, os políticos não pensam nos benefícios e prejuízos para a nação, e sim em seus interesses de perpetuação no poder. Assim, mais um pouco da liberdade do governo foi limitada.
Além disso, o PT, assim como toda organização, possui e possuiu pessoas que foram crescendo dentro do partido e que não compartilhavam dos mesmos ideais, que, como a elite política vigente pensava em seus próprios interesses e nos benefícios de estar no poder (apesar de também haver pessoas comprometidas com seus ideais e com a população brasileira), minando mais um pouco da liberdade do partido.
Esses três pontos, assim os interpreto, fizeram com que o Governo Lula se rendesse a uma série de exigências, pedidos, acordos feitos,..., não tendo como manter sua essência e nem deixar de entrar no sistema. Contudo, o sistema não foi tão acolhedor assim: a oposição não deixou passar as mudanças de discurso, nem os meios ilícitos para conseguir a governabilidade.
Penso que para a oposição, o fato da esquerda ter “chegado ao poder” e os vários fatos que denegriram o governo petista foram importantes para que ela possa falar: “Viram? A esquerda chegou ao poder e o que ela fez? Nada! E pior: se contradisse ao fazer tudo aquilo que repudiava. Nós somos melhores!”. Esse jogo faz parte da circulação das elites, que usarão desse discurso para tentar voltar ao cargo central do governo e que, na verdade, não deixaram de estar presente na máquina estatal.
Seria muito cômodo, contudo, eu “justificar” as falhas do PT e me conformar com isso. Mas, infelizmente ou não, penso: eles não fizeram nada além do que outros partidos não fizeram ou fazem, porém apresentam certa preocupação social maior, o que os dá vantagem. E sei que, apesar de todas as mudanças, ainda há pessoas filiadas ao partido que possuem idéias, que acreditam no debate político e tentam fazer algo.
A trajetória petista é um grande aprendizado. Não adianta chegar ao cargo central do presidencialismo se não tiver uma base forte de apoio; não se consegue (como o PT acreditava) mudar a mentalidade das pessoas usando o Estado; o sistema é cruel e dificilmente mutável: ou rende-se ou não participa dele, mas cuidado com o que fará. E a política vai se construindo assim: com altos e baixos, circulação, frustrações, decepções, esperança e lutas.
Ao analisar a política, a única certeza que tenho é: o sistema é esse e está falido, mas eu não posso esperar de braços cruzados que as coisas melhorem. Então, o que eu enquanto cidadã e ser humano posso fazer para contribuir na construção de uma sociedade mais equânime? Esse é o rumo que norteia minha vida e espero que a de muitos outros cidadãos do mundo inteiro.
Autora: Maíra Gussi de Oliveira – 2º semestre de Serviço Social

Relações de Poder Existentes Neste Simples Ato


Três são os elementos que determinam a riqueza das nações: técnicas, ciência e informações. A posse de técnicas avançadas promovidas pelo advento da ciência, tendo assim como resultado um grande acesso às informações, determinam as relações existentes não somente em âmbito local como também no global.

O documentário Good Copy Bad Copy, dos diretores dinamarqueses Andreas Johnsen, Ralf Christensen e Henrik Moltke, demonstra o problema enfrentado por grandes gravadoras que possuem um aparato técnico avançado. Estas sofrem a concorrência de pessoas que movimentam o mercado de cópias ilegais, como também a criação de Remix desconsiderando os direitos autorais.

Este conflito torna-se cada vez mais intenso devido ao maior acesso as novas criações tecnológicas e com a idéia de “globalização” o conhecimento de algumas artes (músicas e filmes) de determinados países produtores (atores hegemônicos) também são contempladas em outros, fazendo com que sejam inúmeras as possibilidades de cópias. Assim o próprio mercado oferece suporte para este conflito, as fábricas de computadores parecem não se importar com tal situação, pois cada vez mais vão evoluindo estas máquinas, o que por sua vez facilita a atividade ilegal.

Com esta reflexão nota-se o choque de interesses entre as produtoras e os fabricantes de tecnologia, em que as decisões dos últimos de colocarem gravadoras de CD’s e DVD’s na maior parte de suas máquinas faz com que os primeiros percam boa parte de seus lucros. Os fabricantes, ao tomarem tal postura, estão exercendo um ato político, pois além de promoverem maiores lucros, também determinam, em âmbito global, um novo conjunto de relações econômicas, que por sua vez promoverão mudanças nas relações sociais e políticas.

Assistindo este documentário é possível chegar à mesma conclusão obtida a partir do texto O Urbano na Rede: Como a Teoria Sociológica Urbana Pode Ler as Cidades do Ciberespaço de Ariel G. Foina, pois se observou que a economia e as relações sociais são modificadas pela entrada das pessoas no ciberespaço. Assim munidos do conhecimento e das técnicas que este espaço promove, pessoas estabelecem novas relações econômicas, como também relações de poder, pois com o uso deste aparato técnico, tem-se a capacidade de mudar a rotina de alguns.

Este fenômeno pode ser visto, quando no documentário é retratado o ritmo tecno-brega, pois os DJ’s com o uso da tecnologia criavam “novas” músicas, de posse destas criações promovem grandes eventos, tomando como referencial a dimensão da cidade. Ocorrendo assim maior crescimento econômico, mudanças dos aspectos culturais existentes ali, como também as relações sociais tornam se mais complexas.

E como foi discutido em sala de aula, o poder não necessariamente se dá pela coerção, mas pela capacidade de influenciar as relações presentes em uma sociedade. Partindo deste raciocínio, pode-se considerar que as pessoas que estão envolvidas neste processo de “criação” no estado do Pará são atores políticos das localidades aonde exercem as influências citadas.

Nas relações demonstradas aqui, fabricantes-produtoras e produtoras-ilegais, observou-se que, por estarmos em uma “sociedade em redes” (Castells, 1999), as decisões de poucos atores hegemônicos determinam a vida de pessoas que a priori estavam à margem do processo de produção. Demonstrando que o embate ideológico, ou o simples não acordo entre estes atores faz surgi novas relações econômicas. Com isto observamos o que ocorre atualmente, maior lucro por parte dos fabricantes e redução da tirania exercida pelas empresas que controlam as artes.

Sendo assim, mais uma vez comprova-se a existência da dialética espacial atual, compreendendo também, a partir de exemplos extraídos no documentário, que o poder não pode ser resumido ao uso da violência, esta é apenas uma forma de expressão. O poder exercido por atores que estão envolvidos as questões tecnológicas tem uma maior capacidade de influência, principalmente no atual período.

Autor: Marcelo A. Dias, estudante de Geografia.

Entreatos

Em 2002 pela primeira vez na história das eleições presidências brasileiras vence um candidato de partido de esquerda. Depois de passar por derrotadas eleitorais, Luís Inácio Lula da Silva (Lula) e o Partido dos Trabalhadores (PT), auxiliados pelo publicitário Duda Mendonça, tira a imagem de incompetência para gerir o Estado e de despreparo para assumir tal cargo.
Considerando o cenário político que o Brasil estava, um presidente reeleito que pouco fez de políticas sociais, a violência urbana, desemprego, as privatizações. O PT abandona o discurso crítico, ameaçador e revolucionário, para um que fale de melhorias sociais, e busca parcerias com grandes empresários e empresas, começando pelo vice-presidente escolhido. Lula é orientado a porta-se de maneira passe a imagem de um líder político centrado, que não busca somente reformas sociais, mas que preocupa com o mercado também e o seu crescimento. Com essa mudança de eixo de campanha, Lula, consegue a confiança da população pobre, que esperava melhorias sociais, dos empresários, e de partidos políticos.

Não é difícil perceber que todo jogo de marketing traçado por Duda Mendonça, a pequena imparcialidade da mídia durante as eleições, diferentemente do que aconteceu em 1989, 1994 e 1998, onde Lula era divulgado como uma ameaça pro desenvolvimento do país, levou a ganhar as eleições de 2002 e a sua reeleição em 2004.
Não basta apenas ser um líder revolucionário, adotar posturas enérgicas e radicais, num país como o Brasil onde as desigualdades são enormes, o político deve agradar os dois lados da moeda, por um lado o povo carente, por outro a elite que movimenta o mercado e a economia.
Para ganhar as eleições o PT mudou, Lula mudou. Passou a ser visto como o Lula paz e amor, oi Lula que não tem ideologias políticas, mas procura as melhorias sociais e econômicas. O grande vencedor das campanhas não foi o candidato Lula, mas toda a estratégia de propaganda e marketing, o jogo de alianças, as coligações formadas.

Numa democracia, onde o Estado é senão um sindicato formado para defender os interesses do poder existente (MICHELS, Robert,2008). Depois de três derrotas o PT assume que não é um discurso marxista que ganhará eleições, não basta ser fanático por uma distribuição igualitária de renda, mas para está no poder, tem que defender também o interesse do poder já existente. Não é com um diploma que se ganha eleições, mas com a simpatia, a imagem e a capacidade de persuasão.

Referencial teórico: MICHELS, Robert. / Sociologia dos Partidos Políticos / Editora XXX, São Paulo, 2008.

Autora: Paula de Lima Bernardes

Entreatos – A mudança de Lula e do PT

O documentário de João Salles mostra os bastidores da campanha de Lula à eleição em 2002. Deixando a parte técnica de lado e analisando o filme a partir de uma visão política, pode-se tirar conclusões interessantes do filme como o papel decisivo de Duda Mendonça na construção desse Lula que a época foi chamado de 'Lulinha, paz e amor', um vislumbre do articulador José Dirceu que seria o braço direito do presidente e passagens carismáticas do cotidiano do futuro presidente e principalmente a grande mudança que se operou na mentalidade não só do Lula mas do próprio partido (com algumas exceções) como mencionado ao longo da filmagem:

“É o pragmatismo né Lula?”, comenta alguém, acho que é o Duda.
“É. É o pragmatismo.”, confirma Lula.

Por exemplo quando Lula cita Walessa ele mostra um conflito no pensamento de esquerda sobre qual seria a melhor forma de mobilizar a classe trabalhadora. Lula apresenta, enquanto voa em um jato rumo a SãoPaulo, três caminhos tomados por esta mobilização. O primeiro seria o do socialismo europeu, que buscava inserir os intelectuais nas fábricas para daí mobilizar a população e tomar o poder, seja pelas eleições ou pela força. O segundo e terceiro caminho seria o do socialismo brasileiro, em que os próprios trabalhadores se organizariam, no segundo modelo fugindo das eleições e buscando a revolução, e o terceiro caminho, apontado por Lula como o caminho pragmático seguido pelo PT seria o de disputar eleições e utilizar o próprio poder do Estado para mudar a mentalidade das pessoas e assim ganhar mais adeptos. Lula acha que Walessa ficou refém do poder instucional-ideológico católico, ao contrário dele que seria um político aberto que viria somente e puramente da classe operária, o que não o impede de governar como ele mesmo comentou:

“Outro dia um companheiro xiita do PT disse: ‘Eu prefiro o Lula de macacão, não o Lula de gravata.' (...) Eu não estava presente, me contaram. Aí fui no microfone e falei: “Tem um companheiro aqui que disse que prefere o Lula de macacão. Vamos fazer o seguinte: eu dou meu macacão de graça pelo terno e gravata dele. Ele vai trabalhar numa fábrica para ver se é bom. Só fala isso quem não conhece o que é trabalhar de macacão debaixo de uma telha de Brasilit. Depois do almoço aquela porra esquenta e você fica todo suado até três horas da tarde.”

Nessa passagem Lula expressa não somente seu desconforto pelo macacão mas sua mudança de postura, agora ele não é mais um operário, é um político que foi operário. E o marqueteiro Duda Mendonça teve um papel primordial na construção desse novo Lula, guiando-o na forma de falar, de agir, de proceder com o público. Abdicando dos erros cometidos em campanhas passadas, principalmente o radicalismo verbal. A campanha eleitoral de Lula optou por um discurso mais moderado, prometendo ortodoxia econômica, respeito aos contratos e reconhecimento da dívida externa do país, conquistando a confiança de uma parte da classe média e do empresariado. Lula mudou de figura, agora se apresentava não como um operário mas como um político, de terno e gravata.

Como se operou isso? À medida que o PT, durante a década de 1990, foi se acomodando na normalidade institucional da política brasileira, abandonando posturas simbólicas de rejeição daquilo que, na terminologia marxista, ele denominava "democracia burguesa" (gestos tais como a expulsão dos deputados federais Airton Soares e Bete Mendes por votarem em Tancredo Neves no Colégio Eleitoral de 1985, ou o voto "não" à redação final da Constituição de 1988) foi lentamente abandonando o caráter de uma "frente" informal de grupos de Esquerda para desenvolver uma poderosa estrutura burocrática permanente que o tornasse apto a participar, com chances de vitória, de embates eleitorais normais. Associe-se a isto a perda de ímpeto militante por conta das posições cada vez mais conservadoras adotadas pelo partido, e temos que o PT tornou-se cada vez mais dependente de fontes externas de fundos que viabilisassem suas campanhas eleitorais e a montagem de uma base de apoio parlamentar ao Governo Lula. No dizer do intelectual marxista César Benjamim, desde 1990, " Lula e José Dirceu começaram a esvaziar o potencial militante do PT para transformar o partido em uma máquina eleitoral tão formidável quanto inofensiva [...] dirigir o PT, nos últimos anos, foi gerenciar ambições".

Mas, particulmente, acredito que o PT foi vítima daquilo que vimos no texto de Robert Michels, a chamada “Lei de Ferro da Oligarquia”: a sua direção burocrática teria se integrado à ordem burguesa simplesmente como um interesse corporativo a mais, desmoralizando o partido diante da opinião pública como um instrumento de transformação social em larga escala. De certo, pode-se dizer que o partido encontra-se desde já numa séria crise financeira, derivada da ausência súbita dos recursos ilegais provenientes do chamado “mensalão”, o que o levou inclusive a se desfazer de sua sede em Brasília, assim como uma crise de legitimidade da sua direção oriunda do já mencionado Campo Majoritário, o qual perdeu, nas últimas eleições internas, a maioria na direção do partido. Mas a estrutura se mantém, afinal ela foi capaz de vencer as eleições e agora luta para se perpetuar no poder e calar as vozes dissidentes do partido que ainda carregam as antigas convicções ideológicas há muito abandonadas por Lula e pelo PT.

Autor: Willian Pereira do Nascimento – História, 2º semestre.

A força da imagem

O objetivo deste trabalho é discutir as provocações e as questões levantadas em uma aula de Introdução a Ciência Política a respeito do filme Entreatos, documentário de João Moreira Salles, que tem como personagem principal o então candidato à Presidência da República Luiz Inácio Lula da Silva.


Não narrando a história, como seria de se esperar em um documentário, o autor apenas registra o que se passou por trás dos bastidores nos últimos dias da campanha para Presidência da República em 2002, o que deveria ocorrer apenas no segundo turno, como ele mesmo explica, mas devido as chances reais de vitória do candidato, começa a filmagem a poucos dias do primeiro turno da eleição. Não é mostrado nenhum comício ou qualquer aparição ao grande público. No entanto foi comprovada a abertura da vida privada com imagens registradas no avião de campanha, nas reuniões do partido, na casa e nos hotéis.


A primeira questão levantada sobre a eleição, posta em sala de aula, foi se era realmente necessário que a figura política de Lula tivesse de ser modificada para se alcançar a vitória. Que deixasse de usar camiseta e barba por fazer para um terno bem cortado, barba e cabelo aparados. Que largasse o discurso radical e passasse a afirmar que os compromissos dos governos anteriores seriam respeitados. Que passasse uma imagem mais confiante à sociedade e ao empresariado em geral.

Em 1989, Lula aparecia em segundo lugar e chegou a ultrapassar a casa dos 20% das intenções de voto. Fechou o primeiro turno com 16% dos votos, sendo depois derrotado no segundo turno por Fernando Collor. Na eleição de 1994, ele permaneceu em primeiro lugar durante oito meses. Perdeu em primeiro turno, obtendo 27% dos votos. Na reeleição de FHC, Lula reapareceu em segundo lugar nas pesquisas e chegou a atingir 32% dos votos. O fato é que o candidato do PT tem mostrado um desempenho incomparável nas pesquisas, mas essa popularidade toda não se repete nas urnas. Uma leitura do fenômeno feita pelos assessores diretos do candidato está ligada à imagem de Lula junto ao eleitorado. Muitos o consideravam radical demais. A coligação com o PL busca anular essa impressão (Luís Henrique Amaral, revista Veja on-line, 27 de março de 2002)

Durante um debate no segundo turno, as seis equipes encarregadas de criticar o seu desempenho, demonstram o aparato que o fez crescer em toda a campanha. Como a escolha de José Eduardo Cavalcanti de Mendonça, Duda Mendonça, um dos mais importantes publicitários brasileiros (Paulo Maluf-1992, Marta Suplicy-2004, Ciro e Cid Gomes-2006) e o gasto de R$ 48 milhões em campanha (TSE).

Outras questões surgiram: se as mudanças em muito atribuídas ao Duda Mendonça eram para conquistar a confiança do eleitorado que faltou nas eleições passadas ou se elas realmente incorporaram à vida pública e privada do Presidente da República; e por último, se tal imagem era definida como padrão pela elite ou pelo restante da população.

Embora não retratado no filme, é notório o distanciamento de Lula daqueles grupos que o fizeram aparecer no cenário nacional. E descontentamento destes grupos com sua atuação como Presidente. Era esperada uma defesa dos direitos trabalhistas e da previdência. As suas atuações são muito criticadas por partidos de esquerda e pela ala mais militante do próprio PT.

Algo que chamou a atenção foi o banimento de parte do Partido dos Trabalhadores que se opôs a tais mudanças, e se mantiveram, segundo a imprensa, fieis aos pensamentos que nortearam o seu engajamento político. O partido se preocupou em se perpetuar no poder recém adquirido tornando-se conservador como nunca fora antes. Assim qualquer ameaça a hegemonia interna foi duramente reprimida. Como disse Michels (1982): “Marx, se estivesse vivo ainda, iria se revoltar contra tal degenerescência”.

Referências:
SALLES, João Moréia . Entreatos, Brasil, 2004.
http://veja.abril.com.br/270302/p_048.html (ultima visita ao site em 24/jan/2008 às 15:41 h
http://www.direito2.com.br/tse/2002/out/15/tse_autoriza_lula_a_aumentar_gastos_de_campanha (ultima visita ao site em 24/jan/2008 às 16:22 h)
http://www.sindicatomercosul.com.br/noticia02.asp?noticia=15906 (ultima visita ao site em 24/jan/2008 às 17:52 h)
MICHELS, Robert. Sociologia dos partidos políticos. Brasilia: Editora Universidade de Brasília, 1982. 243 p. (Coleção Pensamento Político ;53)

Autor: Vagner Maciel

Artigo de “Entreatos” de João Moreira Salles


Segundo Maquiavel, os fins justificam os meios, pensamento este compartilhado por políticos contemporâneos, inclusive os brasileiros.O tema abordado pelo documentário “Entreatos” insere-se nesse contexto, no tocante ao fato de opor duas faces de um mesmo candidato, Luís Inácio Lula da Silva então candidato a presidência da República em 2002.O tempo todo, as falas de Lula nos remetem ao então candidato metalúrgico de 1989, com um discurso de não alianças e com verdadeiras propostas voltadas para mudanças sociais reais e de forte cunho de esquerda.No entanto, a imagem de 2002 é completamente oposta,não só esteticamente mas e principalmente quanto as idéias políticas de alianças e propostas que por sua vez,pode-se dizer beirando o populismo.Penso que o interessante de se analisar é o que terá provocado tal mudança?

A postura de Lula mudou baseado no pensamento reproduzido pela sociedade brasileira de que só somos bem representados por alguém que possua diplomas,que pareça ou demonstre aproximar-se disso.Não importando as intenções por trás desta postura.A idéia de político como superior e “salvador”.Imagem alimentada pela mídia e que não é questionada pela maioria da população.Os políticos adotam posturas padronizadas tais como: gestos e discursos semelhantes, formas de se vestir, etc. Visão essa que está inserida no imaginário das pessoas,que por sua vez é reforçada e construída principalmente pela TV .Talvez por esta ser um veículo de comunicação que chega com mais facilidade à casa das pessoas.O interessante neste contexto é observar que os eleitores deixaram de escolher o Lula de 1989 conhecido como líder sindical e optaram pelo Lula de paletó, traduzindo a idéia de que as pessoas não querem ser identificadas com um personagem popular e sim com um ser elitizado e conciliador ao invés de questionador.O que me faz pensar em Admirável Gado Novo de Zé Ramalho “Eh! Oh!Oh!Vida de gado Povo marcado eh! Povo feliz...

Autora: Valdene Costa Rocha - estudante de História

A socialização e a deficiência visual

Hoje temos um impasse no que se refere à inclusão dos deficientes visuais a pirataria. Veremos como essa questão pode influenciar diretamente no contexto da aprendizagem dos deficientes visuais.
Vivemos numa sociedade onde a comparação entre pessoas é amplamente utilizada para estabelecer parâmetros de aceitação, assim são estabelecidos padrões de beleza, peso, tipo de cabelo, cor, entre outros. Essa comparação também é encontrada no nosso meio escolar, onde se tem a tendência de “patologizar” as formas de desenvolvimento que se desviam das formas estabelecidas como padrão, reproduzindo assim a característica homogenizadora e excludente que procuro criticar.
Neste contexto, a pessoa com uma atipia biotípica encontra enormes barreiras para o seu desenvolvimento. Muitas vezes o preconceito parte da própria família, que subjuga a capacidade dos filhos, os excluindo do convívio escolar e social. Por outro lado, acho que esta reação de “proteção” procura evitar a dolorosa socialização, devido à discriminação que a criança sofrerá por ser diferente.
Vigotski (1997) trata a socialização como ponto fundamental para o pleno desenvolvimento do indivíduo, sua teoria, conhecida como histórico-cultural, destaca a linguagem como fundamental para este processo de formação da personalidade.
Com o avanço tecnológico proporcionou-se um aparato que facilita a inclusão, como a utilização de programas que verbalizam textos digitalizados. Este desenvolvimento supera o braile, que é feito através da codificação em relevo do texto com o auxílio de máquinas.
Em decorrência da necessidade dos textos digitalizados, criou-se o impasse com as editoras, que tem se negado a fornecer o material desta maneira devido à facilidade que se tem hoje de manipular o livro digitalizado. Este material poderia tanto ser pirateado (replicado), como alterado no todo ou em partes, é o que alegam as editoras.
Temos aqui a questão dos direitos autorais como vimos no filme Good Copy, Bad Copy, no entanto estamos tratando agora de uma questão de utilidade pública. A pirataria que encontramos no meio musical, tem reflexos na posição das editoras na hora de disponibilizar o material para os deficientes visuais.
Como o processo de codificação do livro para o braile é lento, e gera volume de papel cerca de três vezes maior, a implementação do método digital facilitaria o ensino, já que além agilidade, mais pessoas com esta atipia teriam acesso à cultura. Isso é fundamental, pois temos hoje um quadro de restrição das possibilidades que o futuro tem para estas pessoas, limitando, como diz Vigotski, seu papel na vida social. E isso não corresponde ao ideal social e educacional.
Até que ponto vai o poder das editoras legitimado na super-estrutura? Já que a população de deficientes visuais encontra as conseqüências do seu “defeito” no meio social, não poderíamos falar na socialização destes custos?
Precisamos abrir o leque de possibilidades para a vida social, a possibilidade que é aberta à pessoa “normal”, a participação na elite cultural e política, com acesso a profissões dignas.

Bibliografia: VIGOTSKI, L.S. Fundamentos de Defectologia. Madrid, Visosr, 1997, vol. V. pp.11-37.

Autor: Rodrigo Cesar - Licenciatura em Química 7º semestre

Pierre Bourdieu - Meditações Pascalinas


“Não há democracia efetiva sem verdadeiro contra-poder crítico. O intelectual é um desses contra-poderes, e de primeira grandeza”


Breve biografia:

  • Nasceu na região de Béan, França, em 1930;

  • Morreu na noite do dia 23 de Janeiro, num hospital de Paris, em conseqüência de um cancro, aos 71 anos de idade;

  • Catedrático de sociologia no Colége de France;

  • Foi diretor da revista Actes de la Recherche em Sciences sociales, diretor da École des Hautes Études em Sciences Sociales;

  • A educação, a cultura, a literatura e a arte foram os seus primeiros objetos de estudo;

  • Estudou por fim os meios de comunicação e a política.

Começou a produzir, de maneira relevante em a partir de 1964 e é considerado um dos sociólogos mais influentes de sua época. Desenvolveu, ao longo de sua vida, mais de trezentos trabalhos abordando a questão da dominação, e é, sem dúvida, um dos autores mais lidos, em todo mundo, nos campos da Antropologia e Sociologia. Escreveu não só sobre a sociedade européia, as também sobre a Argélia e a sociedade cabila. Sua discussão sociológica centralizou-se, ao longo de sua obra, na tarefa de desvendar os mecanismos da reprodução social que legitimam as diversas formas de dominação. Criou diversos conceitos e um vocabulário todo próprio para explicitar seus pensamentos.Um dos principais alvos de crítica de Bourdieu, nos seus últimos anos de vida, foram os meios de comunicação, que estariam, segundo ele, cada vez mais submetidos a uma lógica comercial inimiga da palavra, da verdade e dos significados reais da vida.

Obras principais:

  • Liber 1
  • A miséria do mundo
  • O poder simbólico
  • As regras da arte
  • Ofício de Sociólogo
  • A dominação masculina
    Contrafogos
  • Meditações Pascalianas
  • Contra fogos 2
  • Produção da Crença
  • Os usos sociais da ciência
  • Coisas ditas
  • A economia das trocas simbólicas
  • Esboço de auto-análise
  • Sobre a televisão
  • O amor pela arte
  • Um convite a sociologia reflexiva

A obra analisada em sala foi Meditações Pascalianas na qual Bourdieu revisa a própria obra e critica o pensamento escolástico devido a sua construção dentro dos muros da universidade e propõe que os filósofos pensem o mundo dentro da ordem social, participativamente, e não como observadores onipotentes. Onde procurou mostrar que as relações de força entre os agentes sociais apresenta-se sempre na forma transfigurada de relações de sentido. A violência simbólica, outro tema central da sua obra, não era considerada por ele como um puro e simples instrumento ao serviço da classe dominante, mas como algo que se exerce também através do jogo entre os agentes sociais.

Um importante conceito apresentado Illusion, que é estar no jogo, estar envolvido no jogo, levar o jogo a sério; dar importância a um jogo social, perceber que o que se passa é importante para os envolvidos, para os que estão nele;

Um dos temas a Libido e Illusion, é de singular importância pois nele o autor se esforça em afirmar que são transações insensíveis, de compromisso semiconscientes e operações psicológicas (projeção, identificação, transferência e sublimação, que é a “dessexualização da pulsão instaurada em uma intersecção não-vazia entre o mundo privado e o público, este último continuamente invadindo e constituindo o primeiro” (Oliveira 2005).Diz, ainda, que nunca é possível determinar ,a rigor, quem faz a escolha se o agente ou a instituição; nunca se sabe quando o bom aluno escolhe a escola, ou se essa última o escolhe, pois tudo em sua conduta dócil evidencia o quanto ele a escolhe. E pede para que os intelectuais invistam no espaço doméstico: onde a Sociologia e a Psicologia devem se unir para analisar a gênese do investimento num campo de relações sociais. Tal ponto da apresentação foi recebido com ressalvas, uma vez que é difícil aceitar uma opinião tão radical.

A Coerção do Corpo é exercida na obscuridade das disposições do habitus (sistema deposições duráveis, estruturas predispostas a funcionarem como estruturas estruturantes, são reguladas e regulares). Nesse ponto da apresentação houve um importante apontamento sobre a escolha da sexualidade, da imposição social de se ter filhos, e de qual carreira seguir. A Lei tenta dissimular a impossibilidade de facultar ao povo o acesso à verdade libertadora sobre a ordem social, na realidade não passa de uma forma legitimação. Os dominados contribuem aceitando tacitamente os limites impostos, tal reconhecimento assume a forma de emoção corporal, o constrangimento é demonstrado pela vergonha de não corresponder as expectativas sociais. Tratando inclusive da veneração às pessoas, às obras, às leis, aos grandes.

O autor fala em dois casos de forma muito direta: os esforços dos pais para preparar a criança negra para o destino do qual não podem protegê-la acabam por determiná-la secretamente para esperar seu castigo misterioso e inexorável; e a dominação masculina, que é espontânea e extorquida, desde que se leve em conta os efeitos duráveis exercido pela ordem social sobre as mulheres, fazendo com que a afirmação das mulheres se dê pela masculinização delas, pois ao invés das mulheres valorizarem aquilo que fazem, partem na empreitada de fazerem aquilo que é tipicamente masculino e, assim, conseguirem sua afirmação social.

Ao tratar de Poder Simbólico, Bourdieu afirma que a dominação possui sempre uma dimensão simbólica. E realmente é possível perceber isso, ao olharmos as bandeiras de alguns países que trazem armas, numa demonstração clara de que uma arma é imbuída de um valor simbólico muito maior do que os seus efeitos bélicos. E entre exemplos e debates em sala se estacaram o estereotipo de pessoas ditas bem sucedidas e seus bem, como forma de externizar o poder.

Explicou que é natural que um atue sobre o outro e vice-versa, que a comunicação e compreensão mútuas possam se estabelecer entre eles através de signos e símbolos no âmbito de uma organização e de instituições que não são obras de nenhum dos dois. Que do ponto de vista dos que dominam o estado, e por meio dele, fazem de seu ponto de vista o ponto de vista universal, ao cabo de lutas contra visões concorrentes. O Estado orquestra os habitus a torná-los senso comum: calendário social, feriados, férias escolares, divisão do mundo universitário em disciplinas - limitando e mutilando as práticas e representações;

Apesar da densidade do texto e da inexperiência do grupo, a participação do restante da turma rendeu boas discussões a respeito da apresentação, chegando a conclusão de que não adianta querer atacar a dominação através das armas ou de qualquer outra forma radical mas, sim, com a transformação de cada indivíduo da percepção que é feita do mundo. De tal sorte que a evolução dessa recriação de informações nos leve a um nível mais justo de habitus.

A maior baixeza é a busca da glória.



Autores: Alexandre Melo e Vagner Maciel

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

FOUCAULT, Michel in Verdade e Poder

É primordial para compreensão do texto citar que esse é uma entrevista, concedida por Foucault a Alexandre Fontana. Assim, além de um discurso informal, tem-se apenas a opinião do filósofo, ou seja, não há contribuições de outrem aos pensamentos nessa escrito. Ainda neste ensejo, é sobressalente o fato de ser apenas um conjunto de questionamentos, em que Foucault tenta respondê-los embasado em seus conhecimentos histórico-filosófico.
A partir disso, tem-se que o escrito apresenta basicamente os conceitos: de acontecimento; de intelectual, em que é definido intelectual específico e intelectual universal; verdade; e poder, esse tem suas bases apoiadas diretamente no saber. Assim:


Poder e Saber:

Foucault afirma que para ser o proprietário do poder, necessariamente, tem-se de possui o saber, ou seja, aquele que possui o saber também é o dono do poder, pois o conhecimento é uma fonte direta de dominação. Cita-se como exemplo, a discussão em sala, nessa foi apresentado o fato de profissionais especializados (economistas e advogados) usarem seu saber específico para impedir que a população opine em questões públicas, como a política.
O autor embasa sua crítica apontando que, em meados da década de 50, os Partidos lançavam palavras de ordem, impedindo que alguns pontos fossem abordados em suas discussões, ou seja, imposição direta de limites a seus dominados. Ressalta-se que, ainda hoje, tal fato pode ser percebido.


Acontecimento:

A definição de acontecimento é bastante ampla, com isso, não é possível simplesmente defini-lo sem antes analisar os aspectos sócio-culturais em que os grupos sociais estão inseridos.
A História, por exemplo, é composta de vários acontecimentos, e esses produzem efeitos e conseqüências diferentes, sua proporção de abrangência também não é semelhante. Ou seja, algo que se passa em uma sociedade como, por exemplo, a paquistanesa não terá a mesma repercussão se tivesse ocorrido no Brasil. Isso ocorre também pelo motivo de a Historia ser uma relação de poder e não relação de sentido, todavia, não quer dizer que haja incoerências totalmente destoantes.

Intelectual específico e universal:

O intelectual pode ser considerado “figura clara” e individual representante de uma universalidade, cujo proletariado seria a forma obscura e coletiva. É importante ressaltar que os intelectuais abordam em seus trabalhos pontos específicos, isso os situaram em condições privilegiadas de trabalho e vida, isto é, ganharam uma consciência concreta. Isso o possibilitou também de possui o direito de falar o que acredita enquanto dono da verdade e justiça. É interessante que os membros da sociedade o ouviam como representante universal.
Foucault classificava os intelectuais em dois grupos distintos – intelectual universal e intelectual específico. O intelectual universal derivou do homem da justiça e da lei. Ele é aquele que opôs a universalidade da equidade de uma lei. É importante citar que esse é portador de valores em que os componentes da sociedade podem se reconhecer. Já o intelectual específico surge a partir da Segunda Grande Guerra. Ele foi visto como “cientista absoluto”. O papel desse torna-se importante na medida em que ocupa responsabilidades políticas, pois ao atender problemas específicos, estará lidando também com problemas das grandes massas.

Verdade:

O autor, primeiramente, estabelece que não há conceito de verdade se não houver o conceito de poder. A verdade é constituída de acordo com o meio social de cada grupo, ou seja, o que é verdade para um grupo não necessariamente será para outro. É também factual que cada sociedade tem o poder de considerar um enunciado falso o verdadeiro e, dentro de suas concepções, aplicar as sanções previstas em suas leis.


Autoras: Taíze Carvalho e Nara Cristina

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

A discriminação é de classe ou de cor?

A partir do texto “Raça e Pobreza no Brasil” extraído do livro Classes, Raças e Democracia do professor titular do Departamento de Sociologia da USP, Antonio Sérgio Alfredo Guimarães, pôde-se notar que ainda hoje é necessária a utilização do termo raça.
Embora considerado por alguns intelectuais um termo abusivo, posto que não retrata de forma “coerente” a realidade brasileira e não tem cunho científico, o termo “raça” ainda é o melhor recurso na análise do grupo social que compartilha uma “identidade social”, que é “relativamente estável e cujas fronteiras sejam marcadas por formas diversas de discriminação baseadas em atributos como a cor”, nas palavras do autor.
Foi discutido que, embora a teoria de que há no nosso país uma relação cordial entre as diferentes raças – relação essa chamada de democracia racial que prega o discurso de que a discriminação é de classe e não de cor, é bastante claro que a segregação da sociedade é baseada em fatores como cor, traços físicos e ascendência, ou seja, de raça.

Ainda que a discriminação fosse de classe, onde a classe pobre é subjugada pela rica, ela ainda teria caráter racial visto que grande parte da população pobre é composta pelos negros. Ao chegar nesse ponto descobrimos que há um ciclo vicioso que explica o porquê “dos pobres serem pobres porque são negros”. É que na sua imensa maioria, os negros não têm acesso à educação de qualidade e conseqüentemente não conseguem posição privilegiada no mercado de trabalho. Descobrimos então a necessidade de políticas afirmativas para a inserção do negro nos espaços onde normalmente só as elites dominam, como nas universidades públicas através do sistema de cotas para negros.
Embora polêmico, o assunto rendeu ao menos uma conclusão que aqui me arrisco em chamar de unânime: é preocupante a discriminação que acontece contra os negros no nosso país, visto que ela vem disfarçada em um discurso que diz que o fato da sociedade brasileira ser tão miscigenada faz com que não haja preconceito e discriminação contra os negros, quando sabemos que na verdade a maioria dos atos preconceituosos são motivados por fatores de cunho racial.
Autora: Adrielle Silva - Ciências Contábeis 3º semestre

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Sicko - Um documentário de Michael Moore


A começar pelo autor, Michael Moore é um premiado cineasta americano, famoso por seus documentários críticos e irreverentes. Ator político nos Estados Unidos desde os 22 anos, Michael fundou um dos principais jornais alternativos do país, The Flint Voice. Seus dois últimos filmes foram sucesso tanto dentro quanto fora do EUA: em 2002 com Tiros em Columbine, que ataca as empresas armamentistas do país, e em 2004 com Fahrenheit 9/11, que aborda o episódio dos atentados de 11 de setembro e faz fortes críticas ao governo de George W. Bush. Este se tornou o documentário mais famoso dos EUA.


Em Sicko, a proposta de Moore foi mais uma fez desafiadora, anunciado inicialmente como um documentário sobre as empresas farmacêuticas americanas (que logo fecharam todas as portas de acesso para os questionamentos do diretor), o filme trata realmente do sistema estadunidense de saúde, dominado e movimentado pelo mercado, por seguradoras que visam essencialmente o lucro. Este documentário mostra que para se ter acesso à saúde nos Estados Unidos é preciso, além de dinheiro, muita sorte, já que ser aprovado num plano de saúde não garante muita coisa ou quase nada.

Os entrevistados de Michael têm histórias que parecem surreais, como a jovem de 27 anos que tinha seguro, e foi diagnosticada com câncer. Quando tentou ter acesso ao tratamento, recebeu a seguinte resposta de sua seguradora: "você é muito jovem para ter câncer". Mas de fato, ela o tinha e precisava tratá-lo, o que não aconteceu a tempo.

Sobre a viagem a Cuba dos heróis do 11 de setembro para receberem assistência médica gratuita, Moore parece estar bem prevenido. Nos EUA os cidadãos são proibidos de viajar a Cuba sem autorização do Governo. Segundo a Agência Internacional de notícias Reuters, Michael Moore declarou que guardou uma cópia do seu novo documentário no Canadá por temer que o governo dos EUA tente confiscá-lo.

Como disse no início, Michael é e sempre foi um ator político, um crítico que sabe muito bem o que faz. Neste momento transitam pelo Congresso americano dois projetos de lei propostos por deputados do Partido Democrata para a instituição de um sistema universal de saúde pública gratuita no país. Será que a dobradinha americana de saúde x lucro pode ter solução?


Autora: Daniela Moura - Jornalismo - 7º semestre

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

O Príncipe de Nicolau Maquiavel


Concluído em 1513, a obra intitulada O Príncipe, assim como o titulo sugere, contempla o poder em toda sua extensão, digo: não apenas as formas de se chegar ao poder como também de se manter e lidar com o povo. O texto é como um manual de ensinamentos para os governantes, retratando o poder do Estado, as formas de principado – hereditário; civil, misto e eclesiástico – de como se conquistam e se conservam.

Rompendo as barreiras históricas O príncipe é uma obra que repercute através dos séculos sendo adotada por importantes atores políticos e empregada pelos mais diversos segmentos sociais e políticos. A estratégia política empregada por nossos atuais governantes em pouco difere da dos príncipes citados por Maquiavel, como por exemplo: ética apenas na teoria com ausência de uma prática política e interesses individuais colocados em primeiro plano em detrimento da coletividade. Adota-se assim a premissa “Faça bem aos poucos e o mal de uma vez”.

Outra importante questão abordada pelo autor, refere-se a virtude (Virtú) e a sorte (Fortuna), que influenciam no seu mantenimento no poder, legitimando suas ações. Nossas ações são influenciadas pelo destino ou pela sorte que possuímos, no entanto Maquiavel ressalta a importância de saber controlar esse destino ou sorte harmonizando estratégia (Virtú) e sorte(Fortuna) ao tempo e as circunstâncias em que vivemos.

Autores: Getúlio Henrique - Serviço Social 3° Semestre
Andréa Moura Batista - Serviço Social 3º Semestre

Jessié Quirino - Poesia Falada Sobre Política

Antes de mais nada, é preciso agradecer a generosidade do nosso colega de turma Vágner Maciel, que nos apresentou o trabalho do seu conterrâneo pernambucano Jessié Quirino, escritor e poeta da cultura popular nordestina.

As informaçõs abaixo foram gentilmente "retiradas" pelo Vágner do site oficial do poeta. <http://www.jessierquirino.com.br/>

Logo abaixo segue um resumo sobre o poeta e logo depois duas poesias faladas do autor. Vale a pena ouvir e se divertir!
Arquiteto por profissão, poeta por vocação, matuto por convicção. Apareceu na folhinha no ano de 1954 na cidade de Campina Grande, Paraíba.

Interessado na causa poética nordestina persegue fatos e histórias sertanejas com olhos e faro de rastejador. Autor de vários livros além de causos, músicas, cordéis e outros escritos.

Preenchendo uma lacuna deixada pelos grandes menestréis do pensamento popular nordestino, o poeta Jessier Quirino tem chamado a atenção do público e da crítica, principalmente pela presença de palco, por uma memória extraordinária e pelo varejo das histórias, que vão desde a poesia matuta, impregnada de humor, neologismos, sarcasmo, amor e ódio, até causos, côcos, cantorias músicas, piadas e textos de nordestinidade apurada.
Sobre Jessier, disse o poeta e ensaísta Alberto da Cunha Melo: "...talvez prevendo uma profunda transformação no mundo rural, em virtude da força homogeneizadora dos meios de comunicação e das novas tecnologias, Jessier Quirino, desde seu primeiro livro, vem fazendo uma espécie de etnografia poética dos valores, hábitos, utensílios e linguagem do agreste e do sertão nordestinos. ... Sua obra, não tenho dúvidas, além do valor estético cada dia mais comprovado, vai futuramente servir como documento e testemunho de um mundo já então engolido pela voragem tecnológica."

Ouça aqui:


Caso queiram fazer o download do arquivo, acessem diretamente o link que o Vágner enviou e baixem os dois arquivos no formato wma.

http://www.4shared.com/dir/5430047/681c6d45/sharing.html

Como baixar filmes divulgados no blog

Para baixar os filmes é muito simples, basta instalar na sua máquina o software que será utilizado para compartilhar os arquivos (clique aqui). O nome dele é UTorrent (pi torrent). Aí é só executar o arquivo e instalar no seu computador.

Depois disso, clique nos links que eu criei para cada um dos filmes e abram o arquivo de extensão .torrent, normalmente é um arquivo pequeno com no máximo 30 kb.

Assim que o arquivo abrir, o UTorrent já irá iniciar o download. É possível que ao clicar no link para baixar os filmes seja necessário logar no site http://www.makingoff.org/ para conseguir baixar este pequeno arquivo .torrent. O melhor a fazer é se inscrever rápida e gratuitamente no site, até porque lá estarão disponíveis vários filmes interessantes para você baixarem no futuro.

Lembrem-se, não há risco do seu computador pegar um vírus em nenhum destes programas ou sites.

Plano B

Uma outra forma de download que eu vou criar para arquivos menores (nossa ementa, textos e cronograma) e para os filmes que não estão sujeitos a copyright é a nossa pasta de compartilhamento, o endereço da pasta foi enviado por e-mail. É um site que hospeda diversos arquivos, aí basta clicar no arquivo e baixar direto do site.

E lembrem-se, eu não estou reproduzindo nenhum destes arquivos, apenas estou apontando os caminhos virtuais onde eles estão disponíveis e compartilhados.

Qualquer dúvida me escrevam!

Gustavo

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Apresentação dos artigos baseados no documentário Vocação do Poder

Os próximos 12 posts do blog são o resultado da primeira etapa do curso. Esses artigos são baseados no documentário Vocação do Poder. Vocês, estudantes da disciplina de ICP-Verão, têm uma semana, contando de hoje (terça-feira, dia 22/01), para escrever e entregar a crítica ou comentário sobre algum desses artigos publicados aqui. Ou seja, vocês têm até dia 29/01. Ao escrever essa crítica ou comentário, vocês podem tanto concordar, quanto discordar da visão do colega autor do artigo. A formatação da crítica é a mesma do artigo e as demais diretrizes estão no programa do curso.
Abraços,

Luíza Alencastro - Monitora

Vocação do Poder – O que é necessário para ser eleito?

Ao assistir o filme A vocação do Poder, vários conceitos estudados em sala ficam claros como a relação de poder que a política exerce sobre uma considerável parte da sociedade. Dentre essas relações a clara visão de que o Estado reflete o valor do poder político, religioso, econômico, dentre outros. Essas relações são chamadas de Poder Local – relações que se estabelecem entre os grupos e são respeitadas pela sociedade. É difícil definir a palavra poder, pois a mesma é uma expectativa e só existe a partir da hora em que é exercida. Sendo a política o poder de influenciar.
Em minha opinião, o filme ao mostrar pessoas com perfis diferentes, consequentemente nos mostrou que existem várias formas de se fazer campanha política e vários fatores contribuem na realização da mesma. Seis candidatos foram escolhidos e filmados. São eles a pastora Márcia Teixeira, MC Geléia, Antônio Pedro Figueiredo, Felipe Santa Cruz, André Luiz Filho e Carlo Caiado. Dos seis, dois conseguiram se eleger: Márcia Teixeira e Carlo Caiado.
A pastora Márcia Teixeira contava com sua influência religiosa para arrecadar seus votos. Não estou julgando se isso é certo ou errado, mas somente que o fato é que a pastora possuía um grande número de eleitores em função de sua relação com o poder religioso (já discutido em sala), consequentemente seus propósitos deveriam ser comuns com o de seus eleitores.

Carlo Caiado possuía um grande apoio político e devido a esse apadrinhamento (relação de poder político) muitos eleitores dos apoiadores de Carlo Caiado lhe deram um voto de confiança. Carlo era jovem e seu apadrinhamento lhe proporcionou uma impressão de “estabilidade política”.

Antônio Pedro Figueiredo fez sua candidatura baseada somente em panfletagem, no “boca-a-boca” e sem patrocínio, sendo assim, mesmo suas propostas sendo boas, poucas pessoas tiveram acesso a elas e seus votos não foram significativos.

Felipe Santa Cruz era um candidato mais voltado para debater suas idéias, durante o filme ele mesmo critica o fato de quase não haver debates políticos entre os candidatos diz que quando há debates somente uma parcela mínima da população comparece.

André Luiz Filho, filho de Eliana Ribeiro e André Luiz, como já fazia parte de uma família em que as pessoas seguem carreira política se candidatou com o apoio dos pais. Em sua campanha sempre estava acompanhado de seu pai ou de sua mãe. Deu ajuda à seus eleitores, como cadeiras de rodas (como mostrado no filme) e até possuiu um número considerado de votos, mas não foi o suficiente. Ao contrario de Felipe Santa Cruz, André mal apresentava suas propostas, mas sempre estava nas ruas fazendo campanha. Será que suas “doações” eram feitas com dinheiro público?! Ou seja, com o nosso dinheiro?!

MC Geléia era um candidato carismático e populista, visava defender sua comunidade e por ter nascido em meio à pessoas de classe baixa achava que entrando na vida política saberia defender as necessidades de seu povo. Não possuía apadrinhamento e sua campanha foi baseada somente na panfletagem e no “boca-a-boca”. Não conseguiu ser eleito, mas tinha carisma, uma forte arma política que tem o poder de conquistar as pessoas. Se Geléia fosse apadrinhado e suas propostas fossem mais bem elaboradas ele não teria chance de se eleger?! Pois um populista muito conhecido por nós e muito carismático, a partir do momento em que foi bem apadrinhado e seu discurso político passou a ser acompanhado conseguiu virar presidente. Sim gente! Estou me referindo ao Lula! E após tantas indagações eu diria que a Democracia é uma ilusão!
Autora: Nara Mendes - 5º semestre de Ciências Contábeis

Populismo = Demogogia?

Não concordo com a forma pejorativa com que a Nara utilizou o termo populista para designar o Mc Geléia. A idéia geral é a de que o líder populista procura estabelecer um vínculo emocional (e não racional) com o "povo" para ser eleito e governar. Isto implica num sistema de políticas, ou métodos utilizados para o aliciamento das classes sociais de menor poder aquisitivo além da classe média urbana, entre outros, procurando a simpatia daqueles desarraigados para angariar votos e prestígio - resumindo, legitimidade - para si. A característica básica do populismo é o contato direto entre as massas urbanas e o líder carismático, supostamente sem a intermediação de partidos ou corporações.
O populismo, desde suas origens, foi encarado com desconfiança pelas correntes políticas mais ideológicas da Esquerda e da Direita. A Direita (como representada, por exemplo, pelo anti-varguismo da UDN brasileira) sempre apontou para seus aspectos plebeus, suas práticas vulgares e para as atitudes supostamente "demagógicas" (concessão irresponsável de benefícios sociais e gastos públicos) que a prática populista comportava; a Esquerda, especialmente a comunista, apontava para o caráter reacionário e desmobilizador das benesses populistas, que se contrapunham às lutas organizadas da classe operária e faziam tudo depender da vontade despótica de um caudilho bonapartista. Uma maneira de enxergar a questão é que o populismo, na América Latina principalmente, foi um poderoso mecanismo de integração das massas populares à vida política, mas realizou tal incorporação de forma "subordinada", colocando a figura de um líder carismático e mais ou menos autoritário como tampão entre as massas e o aparelho de Estado, favorecendo o desenvolvimento econômico e social, mas dentro de uma moldura estritamente burguesa.O populismo é uma expressão política que encontra representantes tanto à esquerda quanto à direita do espectro político. Governantes populistas como Vargas e Perón realizaram políticas nacionalistas de substituição de importações, estatização de certas atividades econômicas, imposição de restrições ao capital estrangeiro e concessão de direitos sociais. No entanto, os regimes populistas freqüentemente dedicaram-se à repressão policial dos movimentos de Esquerda, e sempre realizaram sua ação reformista dentro de um quadro puramente capitalista.
O populismo tendeu também a retirar da própria burguesia nativa sua capacidade de ação política autônoma, na medida em que em tais regimes toda ação política é referida à pessoa do líder populista que se coloca idealmente acima de todas as classes. Ideologicamente, o populismo não é necessariamente de "Esquerda", no sentido de que seu alvo não são apenas as massas destituídas; há políticos populistas de Direita - como os políticos paulistas Adhemar de Barros e Paulo Maluf - que têm como alvo de sua ação política a exploração das carências dos extratos mais baixos (ou menos organizados) da população urbana, com a qual estabelecem uma relação empática baseada na defesa de políticas autoritárias de "moral e bons costumes" e/ou "Lei e Ordem". Esse populismo, chamado pelos autores de "gato de sete vidas" ou "herança maldita" - pois foi e por vezes ainda é visto como uma categoria explicativa de um sistema político e social brasileiro - caracteriza-se menos por um conteúdo determinado do que por um "modo" de exercício do poder, através de uma combinação de plebeísmo, autoritarismo e dominação carismática. Basta referir-se ao "povo", exasperar o demagogismo e aflorar o carisma para que a pecha de populismo seja imputada.
É hora, então, de separar o joio do trigo. Os russos, por exemplo, em meados do século 19, viram emergir a tendência populista nos intelectuais que concebiam o campesinato como a força revolucionária capaz de transitar das comunidades rurais para o socialismo. Os russos souberam diferenciar o populismo tanto do czarismo quanto das demais variantes do socialismo revolucionário e do comunismo. Porque então taxar este ou aquele político de populista? Por que eles estão mais próximos do povo e por isso se "contaminam" com a ignorãncia popular? Não quero defender o “populismo”, não quero dizer que seja a melhor política, mas se formos nos ater ao sistema, o populismo poderia ser considerado um mecanismo mais representativo desta forma de governo que nada tem de democrático. E nisso eu e a Nara concordamos.

Autor: Willian Pereira do Nascimento – História, 2º Semestre

A “desconstrução” ideológica dos direitos eleitorais nas comunidades excluídas e o relacionamento comunidade e político


Após séculos do chamado modo de vida capitalista, com a gritante desigualdade entre as classes e pior, com uma competição acirrada entre essas, tem-se visto a expansão do grupo de excluídos. Os excluídos compreendem a parcela mais frágil numa sociedade, lhes é destituído o conhecimento, o saneamento básico, moradia, em síntese as necessidades fundamentais a vida. A ausência dessas necessidades amplifica os fenômenos de “desconstrução” de conceitos como voto e democracia (pela própria restrição ao conhecimento). O Estado, por sua vez, falha na distribuição desses serviços essenciais, assegurados por Constituição, gerando um “vazio assistencial” a ser preenchido.

Dessa forma, conseguiu-se o improvável: transformar um direito, uma responsabilidade em moeda de troca para procedimentos de execução em sua maioria simplificada e limitada em si. O voto tornou-se para eles a maneira de conquistar bens materiais necessários (a cadeira de rodas para a esposa do aposentado), construção de obras individuais (o muro da casa da eleitora), empregos, confraternizações, problemas de ordem, em sua maioria, individual.

Ao assumir o papel de benfeitor da comunidade, muitas vezes apropriando-se de verba pública para a execução de obras, o candidato ocupa a posição pouco exercida pelo Estado. De modo que a capacidade de influenciar a vida daquelas pessoas cresce, assim como o respeito das mesmas (em maioria), criando um por assim dizer rancho eleitoral. Obviamente que para a manutenção dessa relação o candidato necessite manter um controle sobre a região, não basta apenas dar lotes públicos, existe a necessidade do pão e leite diário, reforçando sua condição de “pai do povo”. Ex: Os excluídos por sua vez tendem a retornar de bom grado aos favores concedidos, levados em primeiro lugar pelos benefícios (muitas vezes é o pouco que chega), e também pelo próprio pensamento conservador presente na maior parte deles (“está ruim, contudo pode ficar pior”). Dessa maneira tem-se visto a perpetuação dessa prática ao longo do tempo, de modo a promover uma indignação em parte dos demais setores sociais. Essa indignação reside do fornecimento de políticas públicas assistencialistas sem projetos sólidos que permitam o crescimento como cidadão, sendo apenas uma maneira de sustentar os indivíduos.

O assistencialismo é, num sistema dito democrático (e nesse caso inclui-se também o voto como moeda de troca), uma prática condenável, não se permite nem a decisão (uma vez que essa é induzida pelos favores), nem se proporciona um crescimento expressivo e prorrogável. Por razões como essas, a prática do voto como moeda de troca, a partir das eleições de 2006 tornou-se irregular, contudo ainda que esteja vinculada como crime eleitoral, os personagens dessa relação permanecem com as mesmas características de antes. As comunidades carentes continuam submetidas a condições sanitárias, educacionais e hospitalares precárias, revelando sua fragilidade, enquanto a classe política ainda mantém sua necessidade e anseio de permanecer no poder.

Provavelmente será questão de apenas algum tempo até que os candidatos encontrem alternativas tão eficientes ou mais, para compra de seus votos, enquanto não houver a destruição das relações de fragilidade e dominação existentes nessas comunidades.
Autor: Rafael da Fonseca, estudante do 8º semestre de Odontologia