O artigo A Sociologia dos Partidos Políticos em Vocação do Poder e Entreatos, de Raphael Andrade, ficou muito bem escrito. Ressalta pontos importantes na discussão sobre eleições, apresentando argumentos bons e coerentes.
É interessante ressaltar a desconexão que ocorre na comparação das eleições presidenciais e de vereadores, desde as campanhas eleitorais e a importância na mídia até o acompanhamento de seus mandatos. Dá-se muito mais importância as eleições presidenciais do que as demais, não só pelo fato dela atingir a todo o Brasil, mas também pela crença de que toda a responsabilidade é do Governo Federal, abstendo as esferas mais próximas da população do cumprimento de seus papéis. Tal prova disso é o fato da população eleger um presidente de tal viés político e maioria de deputados e senadores de um viés diferente (como aconteceu na eleição de Lula). Além de dificultar a governabilidade do Governo Federal, esse fato ilustra como a população não vê o sistema político como uma máquina única, em que o produto final depende do trabalho de todas as peças e atores envolvidos.
A atribuição de toda a responsabilidade ao presidente faz com que as eleições dos representantes mais próximos a população, como a de vereadores, tenha maior liberdade para fazer uma política calcada na compra de votos, no assistencialismo e no clientelismo, como pudemos observar no documentário Vocação do Poder. E, como bem colocado por Raphael, ao acabarem as eleições, o povo fica sem seu poder de troca (o voto), tendo que esperar as próximas eleições para tentar conseguir algo, já que são esquecidos durante esse intervalo. O pior é que a população ainda se sente em dívida com tal político.
O debate sério perde espaço para o assistencialismo, as plataformas eleitorais perdem para os “favores”, os interesses e as necessidades da população estão submetidos aos interesses particulares de nossos representantes políticos. Tal quadro deixa a população descrente do sistema, afastando-a cada vez mais dos debates políticos e fazendo com que os governantes tenham cada vez mais o perfil “carisma, apadrinhamento político, valores religiosos, publicidade e uma equipe competente e dedicada por trás do candidato”, ou seja, cada vez mais a população afasta-se e os candidatos tornam-se menos críticos, conscientes e responsáveis com seus deveres. O bom candidato passa a ser “aquele que sabe agradar a elite influente e a massa insatisfeita”.
Autora: Maíra Gussi – 2º semestre de Serviço Social
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