Inscreva-se em icpverao2008
Powered by br.groups.yahoo.com

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Governo Lula: esperança decepcionada? Reflexões geradas pelo documentário Entreatos, de João Moreira Sales

Baseada no documentário Entreatos, de João Moreira Sales, em outros documentários assistidos, em textos e discussões das aulas de Introdução à Ciência Política e em minha pequena experiência de vida (principalmente na vida política), refleti sobre diversas questões sobre o Governo Lula e sobre o funcionamento da política em si. Minha visão acerca desses assuntos é, talvez, muito utópica (no sentido de “projeto irrealizável” – MINIAURÉLIO, 2000) ou até mesmo inocente e pode tornar esse texto “viajante”, mas expressa aquilo que eu penso e sinto hoje.
Ao falar do Governo Lula, as críticas são severas e muitas pessoas sentem-se decepcionadas com as mudanças em que a chegada ao poder representou: antes um discurso anti-corrupção, anti-assistencialismo, hoje uma realidade de corrupção e assistencialismo, sem investimentos reais maciços. Não podemos negar que essa é uma das melhores fases brasileiras, mas ainda assim está longe de ser aquilo que queremos e esse é o principal motivo de decepção com o Partido dos Trabalhadores, que construiu um sonho de uma nova realidade junto ao povo brasileiro.
Eu reconheço os erros cometidos ao longo desses anos de governo, me decepcionei também, mas creio que as mudanças não tenham sido por vaidade ou por um falso pragmatismo eleitoral.
Acredito que ao longo da história do PT, principalmente a partir de 1989, seus dirigentes, principalmente o Lula foi entendendo que no jogo político, o sistema é decisivo e dificilmente mutável: ou você se enquadra ou não o alcança e o Partido dos Trabalhadores optou por chegar ao poder (mesmo que acarretasse em algumas perdas) para tentar colocar em prática o que discursavam acerca de seus planos para a sociedade – se rendeu ao pensamento elitista. Com isso, tiveram que buscar aliados em partidos com divergências de ideais e em atores políticos (grandes empresários, banqueiros, ...) que se preocupavam apenas com seus interesses financeiros etc, podando um pouco de sua liberdade, pressionados internacionalmente também.
Uma outra questão que deve ser levada em consideração é o fato de que o Estado não é composto apenas do presidente e sim de toda uma máquina, que inclui também deputados e senadores. Ao eleger o Lula como presidente, o povo brasileiro também elegeu maioria de deputados e senadores da oposição, dificultando a governabilidade, já que, ao tomar uma decisão, os políticos não pensam nos benefícios e prejuízos para a nação, e sim em seus interesses de perpetuação no poder. Assim, mais um pouco da liberdade do governo foi limitada.
Além disso, o PT, assim como toda organização, possui e possuiu pessoas que foram crescendo dentro do partido e que não compartilhavam dos mesmos ideais, que, como a elite política vigente pensava em seus próprios interesses e nos benefícios de estar no poder (apesar de também haver pessoas comprometidas com seus ideais e com a população brasileira), minando mais um pouco da liberdade do partido.
Esses três pontos, assim os interpreto, fizeram com que o Governo Lula se rendesse a uma série de exigências, pedidos, acordos feitos,..., não tendo como manter sua essência e nem deixar de entrar no sistema. Contudo, o sistema não foi tão acolhedor assim: a oposição não deixou passar as mudanças de discurso, nem os meios ilícitos para conseguir a governabilidade.
Penso que para a oposição, o fato da esquerda ter “chegado ao poder” e os vários fatos que denegriram o governo petista foram importantes para que ela possa falar: “Viram? A esquerda chegou ao poder e o que ela fez? Nada! E pior: se contradisse ao fazer tudo aquilo que repudiava. Nós somos melhores!”. Esse jogo faz parte da circulação das elites, que usarão desse discurso para tentar voltar ao cargo central do governo e que, na verdade, não deixaram de estar presente na máquina estatal.
Seria muito cômodo, contudo, eu “justificar” as falhas do PT e me conformar com isso. Mas, infelizmente ou não, penso: eles não fizeram nada além do que outros partidos não fizeram ou fazem, porém apresentam certa preocupação social maior, o que os dá vantagem. E sei que, apesar de todas as mudanças, ainda há pessoas filiadas ao partido que possuem idéias, que acreditam no debate político e tentam fazer algo.
A trajetória petista é um grande aprendizado. Não adianta chegar ao cargo central do presidencialismo se não tiver uma base forte de apoio; não se consegue (como o PT acreditava) mudar a mentalidade das pessoas usando o Estado; o sistema é cruel e dificilmente mutável: ou rende-se ou não participa dele, mas cuidado com o que fará. E a política vai se construindo assim: com altos e baixos, circulação, frustrações, decepções, esperança e lutas.
Ao analisar a política, a única certeza que tenho é: o sistema é esse e está falido, mas eu não posso esperar de braços cruzados que as coisas melhorem. Então, o que eu enquanto cidadã e ser humano posso fazer para contribuir na construção de uma sociedade mais equânime? Esse é o rumo que norteia minha vida e espero que a de muitos outros cidadãos do mundo inteiro.
Autora: Maíra Gussi de Oliveira – 2º semestre de Serviço Social

Nenhum comentário: