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quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

O Crescimento do Partido e a Tomada do Poder

Baseado na obra Sociologia dos Partidos de Robert Michels e no documentário Entreatos de João Moreira Salles, este estudo visa fazer uma análise da transição ocorrida na estrutura do Partido dos Trabalhadores entre as eleições presidenciais de 1990 e 2002.

De acordo com Michels, quanto mais um partido político aumenta sua estrutura, ganhando membros e recursos financeiros, cresce a necessidade de uma organização centralizada e conservadora que lidere e estabeleça a direção que o partido seguirá. Essa centralização tem como base os princípios de autoridade e disciplina, que por sua vez são os fundamentos que regem o Estado. Sendo assim, “o partido político revolucionário é um Estado dentro do Estado” (Michels ,1982: 221).
Noto, assim, que o PT de 1990 passou por esse processo de transformação “estadista”, mudando seu discurso anti-capitalista para a postura pragmática que ganhou as eleições de 2002. Essa mudança fica evidente não somente no plano ideológico mas também nas relações políticas que o partido passa a ter. O PT, desde sua fundação em 1980, era contra alianças com setores de centro e de direita. Em 2002, entretanto, um dos fatores que mais contribuíram para a vitória do partido nas eleições presidenciais foi a aliança com os referidos setores.
Penso que tais alianças não são fruto de um pragmatismo temporário que visava somente ganhar as eleições.Tal postura foi necessária também para governar o país. É fato que, na atual conjuntura democrática, onde a maioria decide os rumos da política, nenhum partido seria capaz de governar, dentro dos meios democráticos, sem o apoio dos vários setores da sociedade. E, para inspirar confiança nesses setores, o partido foi obrigado a mudar seu discurso de tom revolucionário e garantir que todas as estruturas políticas e econômicas se manteriam “intactas”. Em troca de apoio muitas vezes são oferecidos benefícios como cargos e até mesmo dinheiro, como mais tarde descobrimos através do escândalo do Mensalão.
Isso prova que a eleição de Lula como presidente não representou qualquer ruptura com a elite que anteriormente estava no poder, foi na verdade a dita circulação das elites descrita por Michels, onde as relações de poder continuam as mesmas, mudando apenas os personagens e incorporando-se novos fatores decorrentes do “novo” cenário político.
Creio, entretanto, que essa corrupção dos antigos valores não leva à total perda da ideologia de um partido como o PT. Ainda hoje existem alas do partido (agora classificadas como “radicais”) que possuem, senão os mesmos, princípios bastante parecidos como os que antes regiam a estrutura do PT. O que realmente mudou foi a cúpula administradora do partido que, já possuindo as características do Estado contra o qual lutava, se corrompeu ainda mais ao chegar ao poder. E embora se saiba que a luta tenha tomado outros rumos, ainda vemos a tática de convencimento da população mais pobre que via, e me arrisco a dizer que ainda vê no PT a solução para todos os problemas do país. Como dizia Maquiavel (1513: p.16) “os homens gostam de mudar de senhor, julgando melhorar”.
Vejo com a eleição e reeleição de lula o nosso equívoco em pensar que tomando o poder, tomando o Estado, mudaremos a condição social, econômica e política da nação. John Holloway (2003, p.21) exemplifica esse pensamento falho com o que aconteceu com a União Soviética que, mesmo após a tomada de poder do partido dos trabalhadores não conseguiu manter o bem estar social. Parece-me portanto, que não apenas o PT de Lula, mas qualquer partido democrático ou revolucionário que tentar mudar uma nação apenas tomando o poder será fadado ao fracasso se esse for “realmente” seu objetivo.
Bibliografia:
MICHELS, Robert. Sociologia dos partidos políticos. Brasilia: Editora Universidade de Brasília, 1982. 243 p. (Coleção Pensamento Político ;53)
MACHIAVELLI, Niccolo. O príncipe. 13. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2003. 156 p. (Coleção leitura) ISBN 8521901992
HOLLOWAY, John. Mudar o mundo sem tomar o poder: o significado da revolução hoje. São Paulo: Viramundo, 2003. 330 p. ISBN 8587767119

Autora: Adrielle Silva - Ciências Contábeis 3º semestre

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