O objetivo deste trabalho é discutir as provocações e as questões levantadas em uma aula de Introdução a Ciência Política a respeito do filme Entreatos, documentário de João Moreira Salles, que tem como personagem principal o então candidato à Presidência da República Luiz Inácio Lula da Silva.
Não narrando a história, como seria de se esperar em um documentário, o autor apenas registra o que se passou por trás dos bastidores nos últimos dias da campanha para Presidência da República em 2002, o que deveria ocorrer apenas no segundo turno, como ele mesmo explica, mas devido as chances reais de vitória do candidato, começa a filmagem a poucos dias do primeiro turno da eleição. Não é mostrado nenhum comício ou qualquer aparição ao grande público. No entanto foi comprovada a abertura da vida privada com imagens registradas no avião de campanha, nas reuniões do partido, na casa e nos hotéis.
A primeira questão levantada sobre a eleição, posta em sala de aula, foi se era realmente necessário que a figura política de Lula tivesse de ser modificada para se alcançar a vitória. Que deixasse de usar camiseta e barba por fazer para um terno bem cortado, barba e cabelo aparados. Que largasse o discurso radical e passasse a afirmar que os compromissos dos governos anteriores seriam respeitados. Que passasse uma imagem mais confiante à sociedade e ao empresariado em geral.
Em 1989, Lula aparecia em segundo lugar e chegou a ultrapassar a casa dos 20% das intenções de voto. Fechou o primeiro turno com 16% dos votos, sendo depois derrotado no segundo turno por Fernando Collor. Na eleição de 1994, ele permaneceu em primeiro lugar durante oito meses. Perdeu em primeiro turno, obtendo 27% dos votos. Na reeleição de FHC, Lula reapareceu em segundo lugar nas pesquisas e chegou a atingir 32% dos votos. O fato é que o candidato do PT tem mostrado um desempenho incomparável nas pesquisas, mas essa popularidade toda não se repete nas urnas. Uma leitura do fenômeno feita pelos assessores diretos do candidato está ligada à imagem de Lula junto ao eleitorado. Muitos o consideravam radical demais. A coligação com o PL busca anular essa impressão (Luís Henrique Amaral, revista Veja on-line, 27 de março de 2002)
Durante um debate no segundo turno, as seis equipes encarregadas de criticar o seu desempenho, demonstram o aparato que o fez crescer em toda a campanha. Como a escolha de José Eduardo Cavalcanti de Mendonça, Duda Mendonça, um dos mais importantes publicitários brasileiros (Paulo Maluf-1992, Marta Suplicy-2004, Ciro e Cid Gomes-2006) e o gasto de R$ 48 milhões em campanha (TSE).
Outras questões surgiram: se as mudanças em muito atribuídas ao Duda Mendonça eram para conquistar a confiança do eleitorado que faltou nas eleições passadas ou se elas realmente incorporaram à vida pública e privada do Presidente da República; e por último, se tal imagem era definida como padrão pela elite ou pelo restante da população.
Embora não retratado no filme, é notório o distanciamento de Lula daqueles grupos que o fizeram aparecer no cenário nacional. E descontentamento destes grupos com sua atuação como Presidente. Era esperada uma defesa dos direitos trabalhistas e da previdência. As suas atuações são muito criticadas por partidos de esquerda e pela ala mais militante do próprio PT.
Algo que chamou a atenção foi o banimento de parte do Partido dos Trabalhadores que se opôs a tais mudanças, e se mantiveram, segundo a imprensa, fieis aos pensamentos que nortearam o seu engajamento político. O partido se preocupou em se perpetuar no poder recém adquirido tornando-se conservador como nunca fora antes. Assim qualquer ameaça a hegemonia interna foi duramente reprimida. Como disse Michels (1982): “Marx, se estivesse vivo ainda, iria se revoltar contra tal degenerescência”.
Referências:
SALLES, João Moréia . Entreatos, Brasil, 2004.
http://veja.abril.com.br/270302/p_048.html (ultima visita ao site em 24/jan/2008 às 15:41 h
http://www.direito2.com.br/tse/2002/out/15/tse_autoriza_lula_a_aumentar_gastos_de_campanha (ultima visita ao site em 24/jan/2008 às 16:22 h)
http://www.sindicatomercosul.com.br/noticia02.asp?noticia=15906 (ultima visita ao site em 24/jan/2008 às 17:52 h)
MICHELS, Robert. Sociologia dos partidos políticos. Brasilia: Editora Universidade de Brasília, 1982. 243 p. (Coleção Pensamento Político ;53)
SALLES, João Moréia . Entreatos, Brasil, 2004.
http://veja.abril.com.br/270302/p_048.html (ultima visita ao site em 24/jan/2008 às 15:41 h
http://www.direito2.com.br/tse/2002/out/15/tse_autoriza_lula_a_aumentar_gastos_de_campanha (ultima visita ao site em 24/jan/2008 às 16:22 h)
http://www.sindicatomercosul.com.br/noticia02.asp?noticia=15906 (ultima visita ao site em 24/jan/2008 às 17:52 h)
MICHELS, Robert. Sociologia dos partidos políticos. Brasilia: Editora Universidade de Brasília, 1982. 243 p. (Coleção Pensamento Político ;53)
Autor: Vagner Maciel
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