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segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Comentário ao artigo: sociedade do automóvel e suas repercussões escrito por Natália Resende de Andrade.

Com a leitura do artigo citado, observa-se que a autora escreve os pontos trabalhados no documentário, possuindo caráter descritivo, assim tentarei apresentar uma leitura utilizando a visão que o geógrafo deve possuir da realidade.


O objeto de estudo desse ramo do saber é a análise do espaço, este é denominado conforme a seguinte citação: “o espaço se define como um conjunto de formas representativas de relações sociais do passado e do presente e por uma estrutura representada por relações sociais que estão acontecendo diante dos nossos olhos e que se manifestam através de processos e funções. O espaço é, então, um verdadeiro campo de forças cuja aceleração é desigual” (SANTOS,1986 p.122), ou seja, o espaço é vida, são os aspectos naturais modelados conforme a prática humana. Com isto se fará uma análise de uma pequena porção deste espaço, o conhecido espaço urbano.


O documentário base do artigo está centrado em apenas demonstrar os problemas decorrentes do sistema rodoviário do espaço urbano, o que foi apresentado por Natália Andrade. Mas tomando todos os problemas sócio-econômicos pode-se usar a expressão “Cidade Caótica” (SANTOS, 2005 p. 105), espaço centrado em promover beneficios de forma distinta para diferentes níveis econômicos.


Muitas vezes tais benefícios privilegiam apenas os detentores de veículos, promovendo assim o que Santos chama de “aceleração desigual”. Com isto observa-se que na sociedade capitalista atual a seletividade de locais ocorre da posse ou não do capital automotivo para se deslocar pelas vias já saturadas. Os aspectos simbólicos da posse do automóvel citados pela a autora do artigo A sociedade do automóvel e suas repercussões, demonstra a importância da propaganda para legitimar tal posse. E que atualmente estas propagandas utilizam a preservação ambiental como uma jogada de marketing, tentando promover uma suavização da culpa que cada indivíduo tem por contribuir no “aquecimento global”, ou seja, se apresentam como empresas ambientalmente corretas e carros que causam pouco impacto ambiental.


A dimensão deste problema urbano, acúmulo de carros nas vias, ocorre devido à idéia de mundo da fluidez e da rapidez em que as distâncias devem ser vencidas ao menor tempo possível, assim cada um em sua gaiola motorizada. O que não pode deixar de ser citado que o acúmulo destas gaiolas ocorre devido às falhas existentes no transporte coletivo, tais falhas que muitas vezes são propositais para beneficiar os atores hegemônicos do transporte coletivo. Estes atores determinam o horário dos que estão vulneráveis a este sistema, sendo assim uma relação de poder, pois “o poder se manifesta por ocasião da relação” (Lacerda Junior, 2004, p.25).


Em relação aos signos existentes na utilização dos automóveis comentado por Natália Andrade, pode-se acrescentar o seguinte trecho: “com o veículo individual, o homem se imagina mais plenamente realizado, assim respondendo às demandas de status e do narcisismo, característico da era pós-moderna. O automóvel é um elemento do guarda-roupa, uma quase-vestimenta. Usado na rua, parece prolongar o corpo do homem como uma prótese a mais, do mesmo modo que os outros utensílios, dentro de casa, estão ao alcance da mão” (SANTOS, 1996, p.54).


Após toda a análise de uma das diversas problemáticas do espaço urbano, tem-se que essa é fruto de uma economia e de uma política que propõem cada vez mais a produção, neste caso em particular, a dos automóveis. E que devido aos signos existentes nesta mercadoria, sua venda cada vez mais atinge novos recordes. Estes são alguns aspectos dentre os vários que o geógrafo observa ao ler um artigo centrado nesta problemática.

Referencias bibliográficas:
LACERDA JÚNIOR,B. Algumas reflexões sobre as relações de poder e o uso do território no município de Rio Verde-GO. In. Revista RV Economia: Análise e perspectivas socioeconômicas,nov. 2004, p.25.
SANTOS, M. O espaço: sistema de objetos e sistema de ações. In a natureza do espaço, técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo: Hucitec, 1996, p.54.
SANTOS,M. Por uma geografia nova. São Paulo: Hucitec, 1986, p.122.
SANTOS, M. A urbanização brasileira. São Paulo: Edusp, 2005, p. 105.



Autor: Marcelo Andrade Dias, estudante de geografia.

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