Michel Moore, inimigo declarado do atual governo estadunidense, se mostra extremamente crítico em relação ao sistema de saúde norte-americano, que não comporta atendimento público aos doentes, como aqui no Brasil funciona (funciona?) o SUS. Apesar do autor se muito criticado por seu trabalho, e eu mesma ter algumas críticas à ele, tenho que concordar que ao ver uma situação tão deprimente quanto um doente que não tem atendimento somente por não ter dinheiro, alguém tem que mostrar algum sentimento de indignação, e o documentário foi a maneira que Moore achou de fazer isso. De acordo com Holloway “O pensamento nasce da ira, não da quietude da razão” [Holloway; 2002], e Moore optou por começar por sensibilizar a sociedade pelo “grito” [Holloway;2002].
A representação do capitalismo estadunidense, hoje, se retrata pela queda da máscara de um liberalismo há muito falido, que estimula de tal maneira o sucesso do indivíduo por si, que o Estado se ausenta das necessidades básicas da população. Ainda pior do que a falência do Estado é o grau de dominação que sofre a maioria das pessoas, a ponto de não perceberem que o capital está tomando o lugar de vidas.
O desprezo do atual governo norte americano pela vida fica estampado nos jornais de todo mundo, e mesmo assim a população dos Estados Unidos se mostra apática (pelo menos a maioria que o colocou novamente no poder, pela nossa boa e velha democracia...) a tamanho desprezo por um dos “bens” mais prezados pela sociedade contemporânea.
O documentário denuncia principalmente essa falência que, há tanto mascarada, finalmente se revela aos olhos dos críticos que, de meros espectadores passam ao lugar de participantes efetivos da vida política de seu país. O poderio do capital, seja ele o simbólico de Boudieu ou o dito capital de Marx, é tão forte e enraizado na sociedade norte-americana que gera movimentos de oposição à sua altura, pois segundo Foucault onde há poder há resistência e essa resistência não vem de fora da estrutura de poderio, mas de dentro dos mecanismos de manipulação.
Apesar da maneira que Michel Moore achou de denunciar as atrocidades que o Estado (ou o capital) está cometendo contra àqueles para quem ele foi feito ser bastante incomoda para o governo e seus simpatizantes, acho válida a tentativa do autor. Quem sabe se tivéssemos um Michel Moore brasileiro fazendo o Sicko nacional o SUS finalmente funcionaria?
Autora: Stefanie Cavalcante, Estudante de História.
3 comentários:
O artigo "Uma tentativa válida" é apaixonanate, não só pela leitura agradabilíssima que nos proporciona mas também porque tem muito conteúdo.
A abordagem do tema levando em consideração não só autores contemporâneos como John Holloway e Pierre Bourdieu mas também escritores clássicos como Marx nos leva a uma profunda compreensão do tema.
Entretanto me questiono se ainda temos - nós brasileiros - qualquer esperança de que um documentário sobre a saúde no Brasil pudesse fazer com que a nação refletisse e tentasse fazer com que a atual situação crítica da saúde mudasse.
É que às vezes me parece que perdemos o nosso poderoso "o grito".
O artigo "Uma tentativa válida" é apaixonanate, não só pela leitura agradabilíssima que nos proporciona mas também porque tem muito conteúdo.
A abordagem do tema levando em consideração não só autores contemporâneos como John Holloway e Pierre Bourdieu mas também escritores clássicos como Marx nos leva a uma profunda compreensão do tema.
Entretanto me questiono se ainda temos - nós brasileiros - qualquer esperança de que um documentário sobre a saúde no Brasil pudesse fazer com que a nação refletisse e tentasse fazer com que a atual situação crítica da saúde mudasse.
É que às vezes me parece que perdemos o nosso poderoso "o grito".
O artigo "Uma tentativa válida" é apaixonanate, não só pela leitura agradabilíssima que nos proporciona mas também porque tem muito conteúdo.
A abordagem do tema levando em consideração não só autores contemporâneos como John Holloway e Pierre Bourdieu mas também escritores clássicos como Marx nos leva a uma profunda compreensão do tema.
Entretanto me questiono se ainda temos - nós brasileiros - qualquer esperança de que um documentário sobre a saúde no Brasil pudesse fazer com que a nação refletisse e tentasse fazer com que a atual situação crítica da saúde mudasse.
É que às vezes me parece que perdemos o nosso poderoso "o grito".
Postar um comentário