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quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

A sociedade do automóvel e suas repercussões

A Sociedade do Automóvel retrata uma realidade verificada não somente na cidade de São Paulo, foco das questões mostradas no filme, mas também em todas aquelas que a população se apóia nos sistemas de transporte para fins diversos, ou seja, praticamente todas as cidades modernas.

Os personagens citados diversificam-se quanto às funções nos meios sociais e suas formas de locomoção utilizadas. Cada um representa certo setor da sociedade, expressando características gerais inerentes a este, como a Lucianne, empresária que trabalha em um shopping e tem no automóvel seu meio de transporte, explicita ao afirmar que o carro é, além de mais eficiente no seu caso, um status adicional.

O auxiliar de qualidade Ricardo e a cozinheira Luciana, no entanto, enfrentam maiores dificuldades e refletem a falta de integração do sistema público de transporte, tendo como conseqüências o aumento no tempo para atingir o objetivo desejado e o preço que, como não é único, acumula-se, ficando elevado. Isto, pois, ambos têm de utilizar três meios de transporte para chegar ao local de trabalho. Além disso, é citada na entrevista a dificuldade encontrada pelos dois para o entretenimento aos fins de semana, já que o fato da demora dita anteriormente desestimula a saída de casa para o shopping, por exemplo, ou diversão semelhante.

Um dos entrevistados mais curiosos foi certamente o professor João Campos, que apesar de ter carro, utiliza-se, segundo ele em 90% dos casos, a bicicleta como meio de locomoção. Uma observação interessante dita pelo professor é a questão da percepção do meio pelo indivíduo quando se utiliza do carro e fora dele. No primeiro caso, comprovado pela empresária Lucianne, pouco se presta atenção na paisagem, mudanças no meio ambiente e até mesmo no que está em volta, já que a pessoa está focada, em grande parte das vezes, no trânsito. A bicicleta, todavia, extende essa realidade, visualizando melhor o que está acontecendo.

Há também a questão da segurança, ressaltando um maior número de assaltos quando as pessoas estão de carro, apesar destas se sentirem mais seguras dentro dos mesmos, sendo, como muito dito, o veículo uma extensão da casa. Esta estatística não pode ser ampliada para demais cidades como, por exemplo, Brasília, devido ao maior fluxo e continuidade no trânsito.

Segundo dados recentes, a cada seis horas morre uma pessoa na cidade de São Paulo por acidente de carro. A reflexão “o carro é um acidente procurando algum lugar pra acontecer” citada no filme pode ser bem inserida neste contexto. Além disso, 70% da poluição é causada por carros, provocando a morte de milhares de paulistanos devido a fumaça expelida pelos carros.


Já dito no início deste, mas merecedor de um tópico é a questão do status, que move boa parte da economia moderna. Cabe ressaltar que, segundo Max Weber, há uma distinção entre status e classe social, sendo que o primeiro é uma idéia-chave na estratificação social. Todavia, alguns sociólogos empíricos contemporâneos fizeram a fusão das duas idéias em um "Status Sócio-Econômico", geralmente tendo como operação uma simples tabela de rendas, educação e prestígio ocupacional. Os dizeres “Prefiro dirigir a ser dirigido” da feira de carros mostrada são o reflexo de uma população influenciada pela mídia e o que a sociedade considera bom para estar inserido nela. O questionamento que se faz é qual a mudança em se ter uma ferrari ou andar de ônibus. Será que realmente a personalidade de uma pessoa pode ser moldada pelas tendências modernas do que é bonito, bom e influente?

Uma ressalva deve ser feita quanto à obediência dos motoristas ao Código Brasileiro de Trânsito, citada como praticamente nula na cidade de São Paulo. Em uma análise comparativa, em Brasília, como pode ser constatado por entrevistas a pessoas que não residem ou residiam nesta e ao sair nas ruas, o respeito aos pedestres é um fato pouco visto no Brasil.

André Gorz, filósofo autro-francês, afirma no filme que o carro desperdiça mais tempo do que economiza e cria mais distâncias do que supera. Essa noção de distância pode ser empregada no campo da solidão, que é muitas vezes causada pela utilização do veículo. Simmel é, por muitos considerado, o sociólogo mais importante na construção social do ego e da solidão. Em seu âmbito, a solidão é, quando se estuda a construção social do indivíduo, um subproduto. Assim, o carro tornou-se, especialmente nos últimos anos, uma ferramenta que produz esse sentimento, muitas vezes sem a percepção da pessoa. Cabe a cada um, portanto, a reflexão sobre o que realmente vale a pena quando se analisa questões como conforto, status, efetividade e estilo de vida fora e dentro de um carro.





Autora: Natália Resende Andrade – Engenharia Civil, 7º semestre.

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