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quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Construções de identidades de gênero:social ou biológico?

Nos últimos anos o número de pessoas identificadas como intersexo cresceu consideravelmente e passou de 1:14.000 nascimentos (Hurtig, 1992) para 1:2.000 nascimentos (Wilchins, 2002) devido principalmente ao aprimoramento das técnicas diagnósticas. É interessante notar que muitas dessas pessoas que passaram por cirurgias reparadoras da genitália e reposição hormonal durante a adolescência optaram por um papel de gênero diferente daquele originalmente designado, mesmo tendo sido criadas para exercê-lo. Aparentemente a explicação quase unânime dos autores das ciências humanas de que a construção das identidades de gênero é apenas um produto social está incompleta, pois não explica as reais motivações de nossa espécie ao fazer a divisão binária entre gêneros e desvincula o social do biológico, como se fossem duas coisas separadas. Todos os animais sexuados possuem comportamento diferenciado para machos e fêmeas e a razão disso é que este tipo de comportamento facilita a reprodução, pelo fato de que é preciso identificar os sexos. O nosso comportamento social não é algo separado do biológico, pelo contrário, quando comparamos com outros animais sociais percebemos estratégias muito semelhantes. Muitos animais vivem em sociedades e os papeis sociais são definidos de modo a perpetuar a espécie. É verdade que nosso comportamento é mais requintado e complexo do que o de outras espécies, mas isso é apenas porque nosso cérebro cresceu muito e se tornou muito grande em relação ao resto do nosso corpo. Comportamentos considerados humanos podem ser vistos em outras espécies, como atos vingativos e crises de ciúmes, mostrando que não há algo que torne as motivações de nosso comportamento diferente das motivações de outros animais. Não queremos aceitar que somos animais porque somos especicistas, e esta negação pode ser encarada também como uma das várias estratégias de perpetuação da nossa espécie. Outras espécies apresentam esta mesma característica, pois há uma tendência geral de todas as espécies proteger e privilegiar a si próprias por motivos biológicos. Sim, nossos comportamentos e papéis são construções sociais, mas em nenhum momento isso que significa que essas identidades não sejam formadas com propósitos biológicos. Muitas pessoas alegam que somos muito diferentes dos outros animais porque temos cultura, pois bem, todas as espécies possuam características únicas que as diferenciam uma das outras e nem por isso são menos animais. No reino animal há uma infinidade de comportamentos diferentes, na maioria das vezes com o propósito da perpetuação da própria espécie. Um dos truques dos humanos é a flexibilidade, já que as identidades de gênero mudam conforme o momento histórico e a região do planeta, numa tentativa de se adaptar às mudanças. As relações humanas são muito complexas, mas se houvesse um maior intercâmbio de idéias entre as áreas das ciências sociais e a biologia, principalmente na área de comportamento animal, as idéias ficariam mais claras e nós conseguiríamos entender melhor a nossa espécie. Provavelmente, há também o fator genético, pois a socialização não explica os homossexuais, já que todos somos criados para sermos heterossexuais e nem as pessoas intersexo, que decidem por um gênero diferente daquele para o qual são criadas. Nossa sociedade tem dificuldades para aceitar homossexuais, embora muitas pessoas já tenham tido relações sexuais com pessoas do mesmo sexo. A razão pode ser novamente concernente à procriação, pois eles não possuem interesse em pessoas do sexo oposto, portanto, as chances de reprodução serão inexistentes. A maioria dos animais tem relações sexuais com os dois sexos e não são recriminadas pelos companheiros, porque isso não representa uma ameaça à própria espécie. É quase impossível que alguém consiga se desvencilhar da trama de relações sociais e opte por ser nem homem, nem mulher, porque a definição de gêneros é uma característica básica de nossa sociedade. Seria uma ameaça potencial para nossa organização social, pois uma subversão desta magnitude colocaria em risco nossa espécie. Como em outras sociedades, a quebra das regras só é tolerada, quando não se constitui em uma ameaça para a estabilidade do grupo. Um lobo Ômega, poderá, por alguma razão, se tornar um lobo Alfa, mas nunca destruirá as relações hierárquicas existentes dentro da alcatéia. Se esse lobo abandonar o seu grupo,isso significará sua morte. A punição que a sociedade aplica a uma pessoa que não tenha gênero definido não provocará sua morte, porém a pressão de todos contra uma pessoa que cometeu um desvio social tão grave quanto esse a deixará tão atormentada que ela não conseguirá viver em paz, sendo persuadida a optar por um ou por outro. Isso pode soar um pouco determinista, mas não podemos negar que os papéis de gênero podem ser alterados, porém a binaridade homem/mulher nunca poderá ser destruída ou isso significará o nosso fim. Concluímos então, que a nossa estratégia de definição de gêneros tem conseguido lograr êxito, porque a espécie humana está resistindo e não foi eliminada pela seleção natural.


Autora: Marta do Amaral Lessa serviço social -2º semestre

2 comentários:

Anônimo disse...

Noossa! Quanto determinismo científico!
Quer dizer que a gentética explica o desejo?
E a seleção natural justifica a discriminação de sexualidade? cuidado que este argumento pode servir para o racismo, o machismo e vários outros males das nossas sociedades.

Anônimo disse...

Uma visão interessante...