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segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Control Room e sua abordagem da mídia


A invasão promovida pelo presidente norte-americano George W. Bush, no Iraque em 2003, apresenta facetas que vão muito mais além do que o caráter político existente. O dia 20 de março deste ano marcou não somente o início de uma ofensiva terrestre a partir do Kuwait e posterior série de ataques aéreos com mísseis e bombas a Bagdad, mas também o realce de paradigmas presentes no contexto de conceitos ocidentais sobre diversos meios, como a mídia especialmente.


A documentarista egípcia Jehane Noujaim dirigiu o filme Control Room, em que o foco está na atuação da Al Jazeera e sua maneira de demonstrar a invasão dita anteriormente. O canal árabe se destacou por exibir as imagens e notícias que redes como CNN, Fox, BBC, dentre outras consideradas “poderosas” neste campo, não faziam questão de colocar em seus noticiários.


Como disse Samir Khader, o produtor sênior da Al Jazeera, em entrevista no filme, não há guerra sem mídia, propaganda. A maior produtora de mentalidades e influências do mundo atual ultrapassa o âmbito simplesmente de publicar fatos, enaltecendo-os quando conveniente e escondendo-os para satisfazer interesses mútuos. E isso ocorre nos dois mundos, se assim pode-se dizer, tanto no ocidental quanto no oriental, cada qual com suas culturas. O presidente Bush não ofereceu 48 horas para que o líder iraquiano Saddam Hussein e seus filhos deixassem o país porque queria evitar a guerra, ou mesmo para dizerem (a mídia novamente em ação) que ele ofereceu chances desta não acontecer. Havia muitos fatores que controlavam tudo isso nos bastidores, os mesmos que inicialmente alertaram a nação americana da suposta posse de armas de destruição em massa por parte do Iraque, sendo uma ameaça ao país, mas para aqueles apenas um pretexto para a ocupação. Este discurso, no entanto, foi mudado, cerca de um ano depois, para a promoção da democracia e da paz mundial, tendo de ser libertos os países que não se enquadrarem às normas da Organização das Nações Unidas, a mesma cujo Conselho de Segurança não aprovou tal invasão.


Pode-se inserir neste contexto o conceito elaborado por Pierre Bourdieu, importante sociólogo francês, de violência simbólica, no qual a produção simbólica na vida social não é arbitrária, mas tem caráter legitimador daqueles que dominam, as forças que exprimem seus estilos de vida por si próprias e seus instrumentos para tais, dando origem a uma distinção social. Alain Finkielkraut, filósofo também francês, ressalta que Bourdieu impugna não o poder abusivo das mídias, mas sim o que se denomina de “incontrolabilidade democrática”.


Desta forma, remontando ao início do texto, às redes ocidentais citadas não interessa a exposição de civis iraquianos mortos, crianças mutiladas ou mesmo corpos de soldados norte-americanos. A visão que esses telespectadores e leitores são condicionados a ter não é a que a Al Jazeera pretende mostrar. O jornalista Hassan Ibrahim confirma tal afirmação quando aparecem, cada vez com mais freqüência, críticas da mídia ocidental ao tipo de abordagem feita pelo canal em que trabalha. Este, apesar de ser atualmente o mais visto pelos árabes, é considerado pelo governo de Bush porta-voz de Osama Bin Laden e foi banido por muitos governos árabes devido a críticas feitas a eles.


O jogo de informações e manipulação torna-se tão expressivo que chega ao ápice de uma encenação, mostrada no filme, da queda da estátua de Saddam localizada no centro da capital iraquiana. Este fato, não a cena mas a queda, teve repercussão internacional, simbolizando o final de uma ditadura e a vitória da Coalizão. O que está entrelaçando, englobando tudo isso pode ser denominado de campo para Bourdieu, identificar-se com a idéia de esferas, de acordo com Max Weber, ou até mesmo com o conceito de classe social, proposto por Karl Marx, cada qual imerso em seu modo de explorar suas convicções.


A neutralidade fincada na teoria da mídia permanece neste ponto inicial e lança espaço para notícias baseadas tanto no interesse de certos grupos, quanto nas entranhas que percorrem a cultura na qual estão inseridos. Assim, os Estados Unidos têm sua forma de noticiar de acordo com os padrões ocidentais impostos por eles mesmos e seus aliados, seja escondendo informação, como no caso dos 55 procurados cujas fotos estavam estampadas em um baralho, ou abordando o objetivo da busca pela paz mundial através da guerra. A Al Jazeera apresenta, por outro lado, a sua visão de mundo, a orientalização do campo midiático. Fica o questionamento a cada um acerca do que pretende ver ou do que lhe é mais conveniente.


Autora: Natália Resende Andrade – Engenharia Civil, 7º semestre.

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