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segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

A figura feminina moderna e a literatura


O presente artigo acadêmico tem suas raízes no texto de Judith Butler, Problemas de Gênero – Feminismo e subversão de identidade. Esse material desperta grande interesse em seus leitores pelo viés tomado, apresentação da mulher não simplesmente com a estigmatizada figura de responsável pela casa e pela família, ao contrário, ele mostra que a mulher, atualmente, é vista como autora política e é diferencial na sociedade moderna.


A mulher, durante anos, foi vista como sinônimo de delicadeza e suas maiores conquistas estavam relacionadas às atividades domésticas. Contudo, os rumos tomados pela sociedade em conjunto com a força feminina, fez com que alguns desses estigmas fossem rompidos, proporcionando à mulher oportunidades de mostrar seu potencial aos mais diversos grupos. Na sociedade moderna, a figura feminina tem criado grande representatividade e, com isso, alcançado postos que há alguns anos possivelmente seriam inatingíveis. Atualmente, a mulher desempenha diversos papéis e, em muitos deles, ela é protagonista. Tem-se, então, a mulher como: mãe, dona-de-casa, esposa e profissional (neste aspecto, destaca-se o fato de algumas trabalharem mais de oito horas por jornada).


A figura feminina tem adquirido um espaço notório na contemporaneidade. A mulher que, hoje, protagoniza funções fundamentais dentro de uma sociedade preconceituosa e quiçá estamentada, infelizmente, ainda não possuí um papel tão relevante dentro do fantástico universo literário. Percebe-se que dentro de algumas obras literárias, por exemplo, ela ainda aparece de forma apagada, isto é, as funções desempenhadas são secundárias. Apesar de não ser a abordagem central deste texto, é sobressalente o fato de a literatura ser excludente não apenas a mulher, mas também a negros e desprivilegiados financeiros. Segundo Regina d'al Castagné[1], a literatura se distancia dos problemas sociais, ignorando além de mulheres, os negros e os homossexuais. “E, quando esses aparecem, são de forma estereotipada, o que aproxima o romance da telenovela”.

Regina D'al Castagné é autora de uma pesquisa que aponta o posicionamento da mulher dentro das principais obras brasileiras da atualidade. Com essa foi possível constatar que “menos de 40% das personagens são do sexo feminino. Além de serem minoritárias nos romances, as mulheres também têm menos acesso à ‘voz’, isto é, à posição de narradoras, e estão menos presentes como protagonistas das histórias”. Ainda nessa pesquisa, a autora constatou que:


Há uma diferença significativa entre a produção das escritoras e dos escritores. Só como exemplo, em obras escritas por mulheres, 52% das personagens são do sexo feminino, bem como 64,1% dos protagonistas e 76,6% dos narradores. Para os autores homens, os números não passam de 32,1% de personagens femininas, com 13,8% dos protagonistas e 16% dos narradores. Fica claro que a menor presença das mulheres entre os produtores se reflete na menor visibilidade do sexo feminino nas obras produzidas.


Segundo d'al Castagné, a representação ínfima das personagens femininas deve-se a eclosão do feminismo, pois, mesmo tendo aumentado o número de autoras, os homens sentiram-se retraídos. “Houve certo constrangimento e os autores entenderam que a mulher poderia ela mesma dizer o que pensava, o que provocou um recuo na quantidade de personagens.”


As representações femininas, nas obras produzidas a partir da década de 60, não destoam muito daquelas apresentadas em livros do século XIX. Se repararmos em personagens notórios de livros machadianos, por exemplo, é possível perceber que a mulher, apesar de imponente, é secundária em relação ao homem e não possuí funções senão as domésticas – cita-se Capitu[2]. Na escola naturalista, uma personagem que merece destaque é Bertoleza[3], essa foi utilizada por João Romão[4] para que ele pudesse ascender financeiramente. Em um avanço cronológico, em 1977, temos Macabea[5], essa era uma típica personagem de folhetim – pobre, apaixonada, perdeu os pais cedo e trabalhava quase de forma escrava. A partir das afirmações, percebe-se que apesar de a mulher ter conquistado um relevante espaço na sociedade, em alguns aspectos, neste caso a arte, ela ainda é vista de forma semelhante há alguns séculos.


Com os dados e enfoques deste escrito, entende-se que apesar da mulher ter atingido alguns patamares, em certos aspectos ela ainda é tida como frágil e deve se direcionar a atividades domésticas. Ressalta-se que quando negras as representações são ainda piores, pois elas, muitas vezes, são mostradas como subempregadas (empregadas domésticas e prostitutas) e sempre possuem apelativos sexuais.


A mulher ainda tem um extenso percurso para percorrer, contudo, lentamente, este é superado. Hoje, a mulher tem mais oportunidades tanto educacionais quanto profissionais, e isso lhe fornece excelentes oportunidades para alcançar uma melhor posição e respeito social. Atualmente, é possível encontrar cidades onde as mulheres têm maiores rendimentos que os homens. A figura feminina aos poucos perde aquela imagem estereotipada de delicadeza e de necessidade de protecionismo estabelecida pelos romances românticos e, cria uma imagem de força e ação. Assim, concluo que a mulher apresentada nos romances contemporâneos não é a mesma encontrada neste tipo de sociedade.


Bibliografia:

CASTAGNÉ, Regina in A construção do feminino no romance brasileiro contemporâneo disponível no endereço http://www.crimic.paris-sorbonne.fr/actes/vf/dalcastagne.pdf acessado em 16/02/2008 às 22:34
GRIFFO, Sonia Regina in Intencionalidades e Representações nas Práticas Discursivas na Literatura Infanto-Juvenil na Construção da Identidade Feminina. Publicado pela UERJ – Universidade Estadual do Rio de Janeiro – RJ.
LIMA, Agilberto in Personagens na literatura Brasileira. Publicado no Estado de São Paulo.

[1] Regina d’al Castagnè é graduada em Jornalismo pela Universidade Federal de Santa Catarina, com mestrado em Literatura pela Universidade de Brasília e doutorado em Teoria e História Literária pela Universidade Estadual de Campinas.

[2] Personagem do livro “Dom Casmurro” escrito por Machado de Assis.
[3] Personagem do livro “O Cortiço” escrito por Aluísio de Azevedo.
[4] Idem.
[5] Personagem do livro “A hora da Estrela” escrito por Clarisse Lispector.



Autora: Taíze Carvalho

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