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segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Invasão ao Iraque: dicotomia das informações - inspirado no documentário Sonho Tcheco -

Dentro da Ciências Políticas uma das grandes questões em estudo é a relação entre o campo da mídia e o campo político[1]. Em suma, o que os estudos realizados até agora permitem dizer é que os campos da política e da mídia, ao contrário do que muitos pensam, interferem um no outro, sem que isso afete a autonomia dos mesmos. Cada um desses agentes políticos tem força e influência no meio a qual participa. Mas, não se pode negar que a mídia tem um forte papel dentro da política contemporânea.


O campo midiático possui forte relação não só com o campo político, mas também com o campo econômico, pois ela incorpora certos objetivos deste último, como a ampliação de lucros e faturamento. Isso faz com que ela aja apenas de acordo com os seus interesses, com o que lhe trouxer mais benefícios tendo em vista seus objetivos. A concentração de poder que este quadro dá a mídia faz com que ela possa barganhar benefícios na negociação com agentes políticos e econômicos e, assim, usar a manipulação da agenda (dos assuntos colocados em pauta) e a forma de noticiar um acontecimento como meios de troca.


É a possibilidade desses acordos que dá sustentação para que tivesse ocorrido, por exemplo, a invasão ao Iraque em 2003, embora muitas nações tenham sido contrárias. A mídia, como difusora de idéias, visões de mundo e de projetos políticos, tem papel fundamental nas ações governamentais. A invasão contou com a divulgação das informações através da mídia sem suscitar manifestações sociais imediatas. Isto é, as grandes empresas de telecomunicações divulgavam os boletins sobre a guerra, mas amenizavam os fatos, como pudemos observar no documentário Sonho Tcheco.


Os relatos dos militares estado-unidenses ilustram bem a relação bastidores-palco na transmissão das informações: ao falar para os grandes canais televisivos eram prudentes e passavam uma imagem de certa tranqüilidade dada a situação de guerra, “era um mal necessário”, além de se colocarem como vítimas quando os iraquianos os atacavam. Mas, nos demais momentos (como os que foram filmados pelo documentário) reconheciam o lado cruel da guerra e as controvérsias existentes. Contudo, apenas “seguiam ordens”.


Podemos associar o “espiral do cinismo” com a grande imprensa internacional e a reação das pessoas (quer dizer, da maioria estado-unidense) num primeiro momento. A grande imprensa internacional lia cinicamente a guerra e transmitia suas informações. A população se conformava com o que lhe era dito, dado que “guerra é assim mesmo. Mas os iraquianos precisam ganhar a liberdade. E esse é o preço que se paga”.


Contudo, pelo tempo que ficou em pauta e não tinha como tirar e pela pressão de organismos internacionais, a guerra foi se desgastando, o palco já não enganava a platéia e todo o mundo deixou sua passividade e passou a protestar, levando aos rumos conhecidos por nós. A imagem do governo dos Estados Unidos foi manchada, inclusive dentro da própria nação, ou seja, nem a maior potência mundial está a salvo da força que a mídia tem.


O documentário tenta retratar a dicotomia das informações dadas pela mídia ocidental e a Al Jazira, rede televisiva de forte influência no Oriente Médio. A Al Jazira tentou retratou a guerra do seu ponto de vista, ou seja, sentindo-se como vítima e mostrando imagens e opiniões que fossem contrárias à guerra. Foram até os locais destruídos, até as pessoas afetadas, seja pela morte de parentes, destruição do patrimônio ou do próprio corpo, o que foi alvo de muitas críticas por parte das equipes televisivas, que diziam que não devia mostrar aquelas cenas para toda a população e que isso significava resistência aos invasores. Mas, o que a Al Jazira queria era mostrar o outro lado, mostrar como seu povo estava se sentindo, o que estava acontecendo sem a influência das grandes empresas midiáticas que também faziam essa cobertura; tentavam concertar a deturpação de algumas informações, como a queda da estátua de Sadam Hussein. Acreditávamos que realmente o povo iraquiano tinha ajudado a derrubar a imagem de seu tirano, quando, na verdade, tudo pareceu apenas uma cena bem montada para convencer a massa mundial.


A repercussão da Al Jazira não era bem quista, tal prova que, apesar de ser contra as regras do jornalismo, um repórter dessa emissora foi atacado e morto enquanto fazia uma cobertura. A rede que mais tentou romper com o “silêncio”, que tentou representar seu povo, que seguiu o padrão de reportagem ocidental colocando-se como vítima, teve suas sansões. Mais uma vez percebemos que ninguém está a salvo do jogo mundial, seja no campo político ou no campo midiático.



Analisando brevemente e superficialmente a relação entre a invasão ao Iraque e a dicotomia da informação retratada pela mídia, inspirada pelo documentário Sonho Tcheco, confirmamos, como Luis Miguel Felipe disse que “as vozes que se fazem ouvir na mídia são representantes das vozes da sociedade, mas esta representação possui um viés. O resultado é que os meios de comunicação reproduzem mal a diversidade social, o que acarreta conseqüências significativas para o exercício da democracia”.



[1] O conceito de campo foi usado segundo a definição de Bourdieu, como Luis Felipe Miguel explica em “Os meios de comunicação e a prática política”: “campo é um sistema de relações sociais que estabelece como legítimos certos objetivos, que assim se impõem “naturalmente” aos agentes que dele participam. Esses agentes, por sua vez, interiorizam o próprio campo, incorporando suas regras, também de maneira ‘natural’, em suas práticas (o que Bourdieu chama de habitus)”.



Autora: Maíra Gussi de Oliveira – 2º semestre de Serviço Social

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