Inscreva-se em icpverao2008
Powered by br.groups.yahoo.com

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Imagem e realidade do conflito Israel – Palestina, Norman Finkelstein

De domínio geral é a ocorrência quase ininterrupta de violentos conflitos entre árabes e judeus desde a criação do Estado de Israel pela Organização das Nações Unidas, após a Segunda Guerra Mundial. Norman Finkelstein, historiador judeu e professor da Universidade de Nova York, é devotado ao estudo de tal problemática e traz nos livros A indústria do holocausto – Reflexões dobre a exploração sofrimento dos judeus, Ascensão e queda da Palestina: uma avaliação pessoal dos anos de intifada, e Imagem e realidade dos conflitos Israel – Palestina, entre outros títulos, ácidas críticas ao povo israelense e as armas utilizadas para atestar sua legitimidade sobre terras palestinas. Dotados de referências e citações, os livros de Finkelstein revelam ao público, além do posicionamento do autor em face da questão, informações acerca de fatos que regeram o conflito desde seu início, portanto, para bem acompanhar a leitura, é necessário que o leitor esteja interado quanto aos acontecimentos históricos pertinentes.


A obra Imagem e realidade dos conflitos Israel – Palestina, precisamente o capítulo 7, aborda o conteúdo dos acordos realizados em Oslo, Noruega, por Yitzhak Rabin, na época primeiro-ministro israelense, e o líder palestino Yasser Arafat. Mediado pelo então presidente americano Bill Clinton, o acordo Oslo I, de 1993, definia que o controle de parte da Cisjordânia e da faixa de Gaza seria atribuído aos palestinos. No entanto, distoando dos termos estabelecidos pelo combinado, Israel desocupou apenas pequena parte dos centros urbanos palestinos situados nas regiões analisadas. Enclaves seguros continuaram mantidos em cidades como Hebron, Gaza e Nablus. Em setembro de 1995, Oslo II foi assinado possuindo como meta a entrega à Autoridade Nacional Palestina, ANP, de grandes cidades árabes da Cisjordânia. A Zona A, sob total controle da ANP, representava 3% dos territórios ocupados e 20% da população, enquanto a Zona B (controle militar israelense e civil palestino) compreendia 24% do território e 68% da população (os territórios das Zonas A e B são completamente fragmentados, sem continuidade). A Zona C, incluindo Jerusalém oriental (Al Qods, em árabe), com 73% do território e 12% da população, permanecia sob total controle israelense, e nela se intensificou a construção de colônias judaicas e rodovias estratégicas.


Baseado também em artigo de Edward Said, intelectual e ativista da causa palestina, o sétimo capítulo do livro de Finkelstein, no entanto, assegura que os acordos de Oslo serviram apenas para conceder aos israelenses direito de reivindicação sobre territórios até então considerados palestinos pelo meio internacional, uma vez que a pretensão antes do acordo não era senão a completa retirada israelense da Cisjordânia e da Faixa de Gaza, algo que não ocorreu. Além disso, o acordo elucidou que nenhuma das partes envolvidas teria o dever de renunciar a qualquer de seus direitos ou pretensões. Problemáticas de relevância como o domínio de Jerusalém, disponibilidade de terras férteis, abastecimento de água, soberania e indenizações aos indivíduos lesados foram tratadas de modo conivente aos interesses judeus.

Quanto a Jerusalém, o mapa anexado ao acordo a traz localizada dentro do território israelense. A água foi distribuída com base na quantidade média de utilização. Desse modo, 80 % dela seria destinada a Israel em detrimento dos palestinos que necessitariam de maiores quantidades do recurso para suprir suas carências imediatas. A parte tangente à soberania confere ao lado israelense poder sobre qualquer infração cometida por seu povo ou contra seu povo. Judeus também têm pelo acordo a última palavra sobre o referente a Jerusalém, assentamentos, posições militares estratégicas, refugiados palestinos, fronteiras e relações externas. Das indenizações, prepondera a ausência de obrigações por parte de Israel em acordo assinado pela OLP. Já as terras são configuradas de forma análoga a dos bantustãos sul-africanos da época do apartheid: fragmentos de terras palestinas isolados e cercados pelas de Israel.


A referência ao regime do apartheid como objeto de comparação proposta por Finkelstein durante seu discurso, que também já foi realizada por Chomsky ao tratar da questão palestiniana, não se restringe ao modelo de divisão terriorial. Em todo o corpo textual do capítulo estudado, é constante a exposição quanto às supostas semelhanças do poder exercido por Israel e a parte branca africana e, consequentemente, quanto à gestão palestina e dos bantustões sobre seus respectivos povos e terras. Costurando argumentos e pontos de vista de autores como Edward Said e Meron Benveniste, o retrato que se tem do conflito é de uma elite abastada e poderosa submetendo os menos dotados de recursos econômicos e militares a uma maquiada teia dominadora. A constituição de Transkei, bantustão dotado de autogestão parcial, é no capítulo referida como inspiração para Oslo. No entanto, o autor ainda confere certa vantagem ao regime separatista africano, uma vez que a questão da África do Sul não se tratava da idealização de Estados separados. Nesse caso, a discussão envolvia direitos de igualdade entre as partes, fato que ocasionava pressão do meio internacional. Em contrapartida, no caso palestino, Oslo deixa de lado a suposição de que a Cisjordânia e a Faixa de Gaza seriam completamente evacuadas por israelenses, então, como foi algo estabelecido em acordo, não há interesse internacional em detectar qualquer forma de abuso.


Como arremate da discussão, Finkelstein sugere a visão de Said em que a paz na região da Palestina tem a premissa de boa convivência entre árabes e judeus. O futuro, assim, seria a existência de uma entidade unitária abrigando os dois povos. Oslo, para Finkestain, fica claro desde as primeiras linhas tratar-se de acordo injusto e fracassado, portanto seu melhor destino é o desprezo.

Autoras: Ana Paula Mendes e Gabriela Lobosque

2 comentários:

Unknown disse...

quando terá outro curso como esse na unb professor? por favor me avise: leandrobarreto10@gmail.com

Política para todxs disse...

QUando houver oportunidade. Em breve pretendo montar um curso sobre Spike Lee e Relações Raciais. Fique de olho.